Enquanto ela tece…

Por

Jénerson Alves*

Em 29.04.2022

Agulha e linha deslizavam por suas mãos, enquanto pensamentos e emoções percorriam pelo seu interior. Ao tecer um lençol, a jovem senhora rememorava seus passos. Desde criança, aprendera que a vida é um vale de lágrimas.

Quando garotinha, não conheceu seus pais biológicos. Não conheceu o Amor, apenas o desprezo e a humilhação. Já nesta época, descobriu por si só que as trevas do entorno não podem abafar um terno coração. Coloria a vida com as tintas dos sonhos. Assim passou o tempo.

Quando jovem, entendeu que o Amor às vezes se veste de Proteção. Casou-se com um homem bom. Enfrentou tempestades. Desfrutou de auroras. Exercitou a fé. Multiplicou as forças. Viveu.

No meio-dia da vida, veio antecipadamente a trevosa tristeza. A Morte apareceu e, sem pedir licença, levou o bom homem para um “bom lugar” – sem ligar para as feridas que brotam na alma de quem perde a quem ama.

Foi aí que ela aprendeu, mais uma vez, a se reinventar. E descobriu que o Amor também se veste de Companheirismo. Encontrou sorrisos que estavam escondidos. Fluíram gargalhadas onde outrora reinava o silêncio. Viveu aventuras e trilhou venturas.

Porém, a Dama do Ocaso voltou e lhe trouxe, mais uma vez, a solidão, abrindo feridas e fechando sonhos.

Se eu pudesse, diria a ela: “Tece, mulher, tece! Não arrefece! Te enternece!”…

Só faço prece.

Um anjo desce, que a conhece, e o Amor tece. E a aquece. O Sol não escurece.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.  

Imagem: Mulher de costura”, William Macgregor Paxton