JOVENS AUTORES: Carta para os que não têm certeza

Por

Pedro Henrique dos Santos*

Em13.03.2021

Viver no Brasil em pleno governo desgovernado onde a democracia encontra-se falhada, onde a educação é subestimada, a Ciência é considerada uma fábula, a fauna e a flora têm a mesma visibilidade das partículas de oxigênio ao olho nu, onde a única certeza que temos é de uma frase popular uma vez dita por quase todo brasileiro que é  que “um dia iremos todos morrer”, faz com que eu sinta a necessidade de reformular o início desse prefácio para “Sobreviver no Brasil […]”.

Heisenberg, aos 24 anos, enunciou o princípio da incerteza que por sua vez pode ser conceituado filosoficamente de modo que, na vida, assim como na mecânica quântica nunca podemos ter certeza de nada.

Hoje, 96 anos após a formulação do enunciado de Heisenberg, reflito que a incerteza das coisas às vezes colabora para que eu não faça planos para a vida, e então permaneço num limbo em que um dia eu penso que eu deveria simplesmente viver o agora, e no outro penso que meu agora está definindo meu futuro e como um “adolescente-adulto” bem leigo em política só enxergo a opção de culpar o chefe de estado pela situação de incerteza em que eu e mais milhares de adolescente-adultos estamos vivendo.

Atualmente estudo Engenharia Ambiental na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Não estava nos meus planos fazer esse curso, e esse foi o prelúdio da minha vida “adulta” na qual eu percebo de verdade que minha vida dificilmente será como às vezes  planejo, perceba que digo “dificilmente”, mas não impossível.

Engenharia Ambiental é um curso novo em Pernambuco e na UFRPE, existindo até agora somente três turmas, e eu percebo que terei árduos desafios para percorrer, maiores ainda do que os que percorri para entrar no curso. Inicio agora os desafios para sair dele sem ser jubilado ou trocar de curso, e que Deus me ajude pois Heisenberg já deixou avisado que não posso esperar muita coisa do futuro.

Como mencionado, no Brasil, a fauna e a flora não têm a devida visibilidade que merecem ter e isso é uma realidade na qual as pessoas profissionalmente envolvidas em questões ambientais falam, como os engenheiros ambientais, mas muitas vezes não são ouvidos pois as prioridades no cenário social e político nos últimos anos têm sido outras e isso me preocupa bastante sobre estar desperdiçando cinco anos de faculdade, ou mais, já que para as universidades públicas a realidade às vezes tende ao atraso, mais uma vez, por causa do governo. E  sentir essa preocupação é semelhante à de ler o soneto da perdida esperança de Carlos Drummond de Andrade; “Perdi o bonde e a esperança… Volto pálido para casa.”, o que torna mais fácil ignorar o futuro e só viver o agora, mas, novamente, o problema é que é justamente o agora que define o meu futuro.

A insegurança do que se está fazendo desestabiliza quem acabou de sair de uma vida que foi basicamente escrita como você iria fazer, que é  alfabetização, curso fundamental e ensino médio. Que agradeçam agora os privilegiados que já têm a vida ganha por causa dos pai$.

Dizer que somos novos demais para pensar num futuro tão longo assim, torna-se incoerente quando temos muitos exemplos ao nosso redor e que temos certo receio de acabar na mesma situação, e se formos avaliar, são pessoas com idade e condições de já terem feito dois bacharelados, um mestrado e não estão onde poderiam estar e é desses exemplos frustrados que vem nossa obsessão pela certeza, a certeza de que estamos fazendo o certo agora para o futuro ser no mínimo, o esboço da obra.

O único caminho que vejo é continuar lidando com a incerteza, esperar estar tomando a melhor decisão e fazer o máximo no presente para construir um futuro incerto sem cair do pedestal.

*Pedro Henrique dos Santos, 19 anos, é estudante do 2º período de Engenharia Ambiental na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

NOTA DO EDITOR

Com esta crônica assinada por Pedro Henrique dos Santos, de apenas 19 anos de idade, o blog Falou e Disse dá sequência à coluna JOVENS AUTORES. O espaço é destinado a estimular e encorajar adolescentes e jovens a compartilharem as suas ideias e os seus pontos de vista de maneira mais ampla, buscando publicar crônicas e artigos sobre os mais variados temas.

A crônica Carta para os que não têm certeza foi editada respeitando-se a íntegra do texto recebido.