Diniz Vitorino, um poeta de verdade
Jénerson Alves*
Em 10.06.2023
No dia 05 de junho, completaram-se 13 anos da morte de Diniz Vitorino, um dos maiores ícones da cantoria de viola e da literatura de cordel. Paraibano, nascido em Monteiro no dia 06 de maio de 1940, Diniz era filho e irmão de repentistas – Joaquim e Vitorino, respectivamente. Durante sua carreira, dividiu os palcos com nomes como Ivanildo Vilanova, Raimundo Caetano, os irmãos Batista e Oliveira de Panelas. Findou seus dias em Caruaru-PE, casado com Dona Zita e pai de Vilma, Alberto Magno e Jônatan Alex.
Foi autor de cordéis e livros de poesia, compondo em diversas modalidades, desde os poemas matutos aos sonetos. Essa versatilidade localiza Diniz em um espaço acima do erudito e do popular. Distante desses paradigmas, a poesia de Diniz figura-se como a expressividade da percepção. Esse aspecto me faz lembrar do filósofo britânico Roger Scruton, para o qual a “alta cultura é a autoconsciência de uma sociedade”.
Ler e refletir acerca da obra de Diniz é mirar a verdade – que ora passa por uma janela, ora por um espelho. Temas interiores, como velhice, saudade, amor, paixão, são presentes em sua pena; mas seus olhos também analisam e se indignam com tópicos exteriores, como pobreza, injustiça e política. Tudo isso com um lastro filosófico que dialoga com grandes pensadores, sobretudo aqueles que residem nas modestas casas interioranas.
Para concluir, debrucemo-nos sobre um dos seus sonetos:
Enigma
Consultando a mim mesmo, estou sabendo
O quanto é falso e inútil meu diploma.
As flores falam comigo, eu não entendo
Nem a mínima expressão do idioma.
Chega o pássaro, as beija, suga o aroma,
Comunica-se, eu nada compreendo.
São palavras ligeiras, ninguém soma
Quantas frases o mesmo está dizendo.
Toca os caules de leve, canta e fala,
Treme ébrio de amor, mas não se cala,
Compõe mais cinco ou seis baladas nobres.
Sai gritando no mesmo dialeto:
Vai rasgar teu diploma, analfabeto,
Que os segredos de Deus, tu não descobres!
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Imagem: Reprodução do programa Ensaio (TV Cultura).