Entrevistando o Criador

Por

Jénerson Alves*

Em 17.09.2021

Tive um sonho estranho. Eu estava na redação do jornal e me era designada uma pauta: entrevistar o Criador. Recebi a missão com uma inexplicável normalidade. Elaborei questões complexas, como os segredos da criação, incógnitas da evolução, o dilema do sofrimento e o futuro da humanidade.

Cheguei ao local da marcação. Não era um templo, um monte, um jardim, nem uma praça. Era uma casa simples. Fui atendido por uma senhora simpática, que me mandou sentar, serviu-me um cafezinho e pediu que eu esperasse.

Sozinho, revisava cada pergunta, contava as páginas da caderneta, examinava a tinta da caneta, conferia a pilha do gravador, verificava a fita para gravação. (Sim, eram bons e velhos tempos, nos quais o jornalismo não dispunha de alguns benefícios tecnológicos atuais, mas era marcado por um romantismo que já não se percebe atualmente).

Não vi ninguém chegar, entretanto, de repente, senti uma brisa tocando em meu rosto. Um sentimento de amor invadiu meu coração. Lágrimas me vieram aos olhos. À minha mente, veio a voz de um humilde pregador que morava em meu bairro e costumava repetir: “Deus é Espírito Pessoal, perfeitamente bom, que, em santo amor, cria, sustenta e dirige tudo”.

Olhei para minha caderneta de anotações. As páginas estavam em branco. Não havia motivos para perguntas. A Resposta estava diante de mim.

——

Acordei-me com os olhos lacrimados. O relógio marcava 05h30. Minha esposa dormia. Um rosto cansado, cujas rugas representavam as lutas que enfrentara ao meu lado. Ainda embebido de um estranho amor, beijei sua face e sussurrei em seu ouvido: “Eu me caso com você todos os dias, por isso nosso enlace é eterno”. Ela continuou dormindo, mas deu um leve sorriso, e eu senti um afago na alma…

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: Engin Akyurt/Pixabay