Nossa cultura envelhece. É preciso renovar!

Por

Otávio Toscano*

Em 29.06.2020

Vendo a ‘live’ de Alceu deste domingo deu uma alegria danada. Foi buscar o forrobodó raiz, bateu pesado com as melhores músicas do nosso cancioneiro e mesclou com grandes trabalhos seus. Vi Gilberto Gil chegar aos 78 anos, Chico Buarque quase isso, Betânia também (dela não faço ideia da idade). Onde quero chegar com essa história toda? A fina flor da nossa cultura envelheceu e o sinal voltou a fechar, para nós que já fomos jovens.

Letras bem trabalhadas, feitas pra pensar, não têm a menor chance de agradar a juventude de hoje. Coberta de razão, ela quer balançar o esqueleto, se divertir, dar uns bons amassos e aproveitar a vida. O espaço que houve para músicas pensantes, como as letras de Belchior, Chico, Ednardo e tantos outros, que dominaram os anos 70, veio muito na carona da repressão que calava o País. Nos anos 80, quando a pauta virou liberdade, o rock nacional ganhou forma e beleza. Beleza pura, como escreveu Caetano.

Acontece que o Milênio é outro. A maioria dos jovens de hoje não tem o menor saco pra viagens interiores, como nas letras de outrora. Agora, entra o sertanejo, que de Sertão não tem nada, como nada têm a dizer os estilos sofrência, brega e todos os quitais. Não há erro nenhum em gostar dessas músicas. Meu lamento é ver que enquanto a galera se diverte falando de cachaça e rapariga, tema constante nas letras, a sociedade afunda como um chumbo jogado no mar.

Não há a menor possibilidade de mudança neste e nem em outros países, sem a participação da juventude. O poder será deles dentro de alguns anos. O mundo, o futuro e a vida estarão naquilo que construírem. Essa capa de herói que foi colocada nesse monstro eleito presidente anda cegando muita gente. Gente bacana que pode e deve voltar a enxergar o mundo sem essa loucura que se transformou o Brasil. Gente bacana que pode e deve se dar as mãos e colocá-las na massa, na construção de uma sociedade que não apenas pense, mas faça justiça. Faça da vida de todos nós uma grande alegria. Afinal, nada mais alegre do que viver. Viver bem, livre e saudável.

*Otávio Toscano é jornalista. Escreve às segundas-feiras.

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