As vacinas diminuem o risco de hospitalização e morte pela COVID-19

Por

Antonio Flores*

Em 07.02.2022

Temos assistido nas últimas semanas a um avanço extremamente rápido da COVID-19 no Brasil. A média de novos casos diários da doença ultrapassa os 290 mil, e a nova onda da doença se desenvolve em um contexto em que a dificuldade de testagem pode estar causando subnotificação. As estatísticas são confirmadas no dia a dia pela sensação de proximidade da doença, uma vez que uma grande parte das pessoas relata que tem, teve ou conhece pessoas com o vírus.

Apesar de preocupante, o panorama atual é bastante diferente do que o vivido no início do ano passado. Isso porque, mesmo com o alto número de casos, as mortes não estão se elevando na mesma proporção. Essa dissociação entre casos e mortes se deve em grande parte à vacinação, que reduz significativamente o risco de hospitalização e morte pela COVID-19. Isso está sendo visto de maneira muito clara no Brasil, onde a cobertura vacinal é relativamente alta. Mas o fenômeno é perceptível também em países como a África do Sul. Mesmo com uma cobertura de imunização que é cerca da metade da brasileira, a vacina está ajudando o país cujos cientistas identificaram a ômicron pela primeira vez a passar por esta nova onda da doença com menos casos graves e óbitos.

Esse cenário de relativa melhora não pode desviar nosso foco e permitir que esqueçamos dos riscos que a ômicron representa para o sistema de saúde. Embora apresente menor letalidade, seja por características intrínsecas do vírus ou pelo próprio efeito da vacinação, a transmissibilidade da nova variante é muito mais alta. Isso significa que o grande número de casos pode desestabilizar a estrutura de atendimento, já que a ômicron tem infectado um grande número de profissionais de saúde, tirando-os da linha de frente em um contexto de grande necessidade.

Por isso, é necessário adotar todas as medidas preventivas que temos assimilado durante a pandemia. Entre elas, estão o uso de máscaras, de preferência aquelas que se ajustam bem ao rosto, como a N95, especialmente em ambientes fechados, e a manutenção do distanciamento físico enquanto estivermos fora de casa. Além disso, para reduzir a circulação do vírus, é importante evitar contato com outras pessoas em caso de sintomas compatíveis com a COVID-19, os quais podem se assemelhar aos da gripe.

Uma das coisas que aprendemos foi a importância de ventilar os ambientes para evitar a propagação do vírus. Medidas simples como abrir janelas, especialmente em ambientes compartilhados por várias pessoas, como escritórios, podem diminuir a chance de transmissão do vírus. Os últimos dois anos nos deixaram exaustos, e é difícil manter o mesmo nível de atenção às medidas preventivas. Porém, aprendemos muito desde 2020 e podemos nos proteger com essas lições. Nesse momento, é preciso que continuemos atuando juntos, caminhando na mesma direção, porque acabar com a pandemia é um esforço coletivo com o qual todos podemos colaborar.

*Antonio Flores, infectologista de Médicos Sem Fronteiras. Atuou no combate à pandemia no Brasil em dois períodos: em 2020 e 2021. Atualmente está na África do Sul trabalhando com COVID-19.

Foto destaque: Tariq Keblaoui/MSF