Quem prova da água de Caruaru…
Jénerson Alves*
Em 20.05.2022
É comum ouvir do eterno prefeito de Caruaru, Anastácio Rodrigues, a seguinte expressão: “Quem prova da água de Caruaru, não quer deixar de beber desse líquido”. Por mais que possa parecer clichê, tal assertiva reflete bem a realidade. Aliás, parece-me que os clichês são mais carregados de verdade do que os ditos excepcionais, teóricos ou acadêmicos.
Um dos que beberam das águas de Caruaru foi o escritor Carlos Paiva. O recifense vive na Capital do Agreste desde 1988, onde foi acolhido como filho adotivo. Por acaso (ou não), Caruaru completa aniversário no Mês das Mães. Assumindo o papel de bom herdeiro, Paiva realizou o lançamento do livro ‘O Rio A Cidade O Tempo O Mundo’ na semana de celebração de 165 anos de emancipação política da cidade. O evento ocorreu na noite da sexta-feira (19), na Asces-Unita, contando com a participação do editor Walmiré Dimeron e do jornalista Almir Vilanova.
Acredito que Caruaru possua uma Fonte de Hipocrene particular. Como alguém que provou dessa fonte, Carlos Paiva produziu poemas como quem faz jorrar água das pedras. E esse líquido etéreo serviu como elemento de denúncia e alerta sobre outras águas: as do Rio Ipojuca, efluente que claudica solitário no centro da cidade, reduzido a um mero esgoto a céu aberto.
Para limpar as águas do Ipojuca, é preciso limpar o coração de um povo. Todos fomos vítimas da pós-modernidade. A conexão da internet afastou a sintonia das mentes; o ‘boom’ dos meios de comunicação de massa desacelerou a comunicação olho a olho; a expansão da ciência afunilou a sensibilidade. Cuidar do Rio Ipojuca é a manifestação material de uma relação com a natureza e o Criador. Não é papel (somente) do poder público. É uma missão coletiva. E o poeta é o profeta que clama – e ama. E sua poesia, como água, se derrama, em busca de solos férteis para irrigar e gerar frutos.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
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