Artigo

Mais do que celebração, o Dia Internacional da Mulher representa luta por direitos

Giselle Beiguelman*

Em 06.03.2025

Todo ano, no 8 de março, muitas pessoas aproveitam a data para presentear as mulheres. Mas o Dia Internacional da Mulher vai muito além disso. Ele marca as lutas por direitos, com greves, protestos e grandes manifestações por melhores condições de trabalho e igualdade. Mais do que uma celebração, essa data é um marco da força e resistência das mulheres ao longo da história.

Um dos momentos mais importantes dessa trajetória aconteceu em 1917, na Rússia. No dia 8 de março, cerca de 90 mil operárias têxteis saíram às ruas, com o apoio de metalúrgicos, para protestar contra as péssimas condições de trabalho, a fome, a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial e o governo do czar Nicolau II. O movimento ficou conhecido como “Pão e Paz” e foi um dos estopins da Revolução Bolchevique.

Apesar de sua importância, foi só em 1975 que a ONU oficializou o Dia Internacional da Mulher, reconhecendo a data como símbolo da luta feminina. Mas essas lutas não ficaram no passado. Até hoje, as mulheres seguem enfrentando desafios, e um dos sinais mais evidentes disso é sua invisibilização na história da arte e da ciência.

Um caso notável é o da médica Trótula de Salerno, que viveu no século XI, na Itália. Salerno era, na época, um importante centro de conhecimento e abrigava a Escola Médica Salernitana, uma das poucas instituições que aceitavam mulheres. Foi lá que Trotta di Ruggiero, mais conhecida como Trótula de Salerno, se formou e revolucionou os estudos ginecológicos.

Trótula escreveu sobre partos, cólicas menstruais e dores mamárias, além de desenvolver tratamentos à base de ervas. Seu livro, “Sobre as doenças das mulheres”, foi pioneiro e essencial para a saúde feminina. Mas, por séculos, sua obra foi ocultada e atribuída a homens. No Renascimento, por exemplo, o editor Kaspar Wolf creditou seus textos a um escravizado liberto romano chamado Eros Juliae.

Hoje, ainda há debates sobre sua autoria. Alguns acreditam que Trótula pode nunca ter existido e que seus escritos seriam, na verdade, uma coletânea de conhecimentos de várias mulheres. Mas essa hipótese não diminui sua importância—pelo contrário, reforça um legado coletivo. No fim das contas, somos muitas, e todas somos Trótula de Salerno.

Trótula é uma das mulheres homenageadas na minha exposição “Venenosas, Nocivas e Suspeitas”, ao lado de outras artistas, cientistas e bruxas que foram nossas primeiras médicas, como a ex-escravizada Luzia Pinta, condenada pela Inquisição.

Eu recupero seus rostos com retratos feitos com IA e conto suas histórias e descobertas sobre plantas. No dia 8 de março, eu e o curador Eder Chiodetto faremos uma visita mediada, com uma conversa aberta ao público. Esperamos vocês!

8 de março, sábado, 11h, no Centro Cultural Fiesp.

Fiselle Beiguelman – Professora livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

Imagens – Web

Artigo publicado originalmente no Jornal da USP.

O que você achou desse conteúdo?

Discover more from

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading