O peso de Bolsonaro
Qual será o peso da participação do presidente Bolsonaro nas eleições municipais de dezembro? A resposta para esta pergunta não é tão fácil de ser encontrada. Trata-se de uma incógnita que só o tempo, este senhor da razão, será mesmo capaz de responder. Isso ocorre, principalmente, por causa da radicalização política entre a chamada esquerda e a extrema direita cada vez mais consolidada no País e pela influência que um presidente pode ter numa disputa municipal.
Enquanto candidatos de partidos aliados ao Governo vão fazer questão de associar seus nomes ao bolsonarismo, sobretudo em lugares onde predomina o conservadorismo e a direita, outros certamente vão preferir esconder o presidente da sua campanha. Isso deve acontecer principalmente em ambientes políticos onde o petismo e a esquerda demonstram ter mais força.
Esse modelo de fazer campanha, escondendo ou mostrando aliados, já ocorreu num passado não muito distante em relação ao ex-presidente Lula. Às vezes dá certo mostrar certos apoios; em outras, nem tanto. A eleição municipal é bastante diferente da estadual ou federal. Os candidatos a prefeito e a vereador costumam ser pessoas bem mais próximas do eleitorado, como se sabe.
Nos pequenos municípios, aqueles com até 30 mil habitantes, nem se fala. A maioria das pessoas se conhece, é comum elas terem também estreitas ligações familiares. Nesses lugares, parte do eleitorado pode até levar em consideração o partido, os apoios políticos dos candidatos. Mas o que vale mesmo é a boa conversa, a troca de favores por votos, o dinheiro para comprar apoios, independente de quem pertence a partido A, B ou C. É provável que o presidente da República tenha mais influência nas eleições de municípios grandes e médios, onde o voto ideológico costuma ter mais peso.
É preciso reconhecer que ele é grande influenciador, tem enorme peso político-eleitoral, pois seu número de seguidores e admiradores é bastante alto. No mínimo, um terço do eleitorado do Brasil hoje está ao lado de Bolsonaro. Isso é o que se constata em recentes pesquisas de opinião.
Hoje o presidente é mais popular e tem seu governo aprovado por mais gente do que antes da pandemia começar. Pode parecer incrível, mas é o que apontam recentes pesquisas, feitas inclusive para veículos de comunicação considerados inimigos do Governo e do presidente.
Apesar de cometer tantos atos considerados insanos, de tratar mal a grande imprensa, o Poder Judiciário e mesmo viver em pé de guerra com o Congresso, Bolsonaro tem muitos seguidores que continuam firmes e fortes com ele. Em um ano e sete meses, já deu para se conhecer bastante da personalidade do presidente. Para uns, trata-se de um irresponsável, inconsequente, destemperado, despreparado e louco. Para outros, um líder que veio para mudar o Brasil e livrá-lo das garras do lulismo e do petismo.
A política é como nuvens que mudam o cenário em pouco tempo, pois todos os dias surgem fatos novos e que repercutem bastante. Mas é provável que a admiração por Bolsonaro, por parcela considerável da população que hoje o apoia, não sofra grandes alterações até dezembro. A menos que ocorra algo muito importante, fora de qualquer previsão.
Diante do contexto, cada candidato dos partidos aliados ao Governo vai analisar o quadro político-eleitoral do seu município e ver se vale a pena ou não explorar a figura do presidente e propagar que conta com o seu apoio. Tenha certeza de que muitas vezes certos apoios podem ser um tiro no pé. Mas, como se diz, cada caso é um caso.
*Carlos Sinésio é jornalista. Escreve às terças-feiras.