Em busca de sentido

Por

Jénerson Alves*

Em 15.01.2021

Este é o título de um livro escrito em 1946 pelo famoso psiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl. Originalmente chamada ‘Ein Psycholog erlebt das Konzentrationslager’, a obra retrata o drama do autor, que passou quase três anos em campos de concentração na Segunda Guerra Mundial. Durante este processo de intenso sofrimento, ele desenvolveu a ‘logoterapia’. Ora, a palavra grega ‘logos’ significa ‘sentido’. Portanto, a logoterapia consiste, segundo o próprio Frankl, “no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por este sentido”. Para o psicólogo estadunidense Gordon Allport, “trata-se do movimento psicológico mais importante de nossos dias”.

Nascido em Viena, quando Frankl foi levado ao campo de concentração de Theresienstadt, em setembro de 1942, já era um respeitado psiquiatra e neurologista, inclusive com um doutorado em medicina. Em seguida, passou por ambientes letais como Dachau e Auschwitz, até ser libertado em abril de 1945, por intermédio do exército norte-americano.

Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia, mantido por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Foto: asmetro.org.br

Ao se ver reduzido aos limites do ser e do não-ser, sua história de vida tornou-se simultaneamente perturbadora e terapêutica. Em ‘Who’s Who in America’, ele declara: “Vi o sentido da minha vida ajudando os outros a ver um sentido em suas próprias vidas”. A partir da indagação “por que não se suicida?”, que ele costumava fazer a seus pacientes, descobria mecanismos psicoterápicos para  adotar. Para alguns, a resposta era um amor, um talento, ou um sonho. A verdade estava bem perto do que já foi dito por Nietzsche: “Quem tem porque viver pode suportar quase qualquer como.”

Nestes dias, tenho visto muitas pessoas procurando sentido para a existência, vazias de significados, carentes de bússolas. Talvez algumas palavras do ex-prisioneiro nº 119104, reproduzidas abaixo, poderão se transformar em alento para quem está pusilânime:

  • O sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para o outro, de uma hora para outra. O que importa, por conseguinte, não é o sentido da vida de um modo geral, mas antes o sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento.
  • Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em desespero que a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós.
  • Deus espera que não o decepcionemos e que saibamos sofrer e morrer, não miseravelmente, mas com orgulho!
  • O sofrimento desnecessário é masoquismo e não ato heroico.
  • Quando já não somos capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós próprios.
  • Quando o paciente está sobre o chão firme da fé religiosa, não se pode objetar ao uso do efeito terapêutico de suas convicções espirituais.
  • As pessoas decentes formam uma minoria. Mais que isso, sempre serão uma minoria. Justamente por isso, o desafio maior é que nos juntemos à minoria. Porque o mundo está numa situação ruim. E tudo vai piorar mais se cada um de nós não fizer o melhor que puder.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: Pixource/Pixabay