Narrativas da guerra política e econômica

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 18.03.2021

Atravessamos um período crítico onde a pandemia aprofundou a crise econômica nacional e internacional. Há atual crise tem freado a recuperação de outra crise iniciada nos EUA e exportada para o mundo em 2008. Um fato importante nesse contexto são as narrativas construídas para justificar ou imputar culpados.

No Brasil a partir de 2014 vivemos uma verdadeira guerra de narrativas políticas e econômicas onde se tenta imputar a um partido e a uma liderança política a responsabilidade pela situação do país. Mesmo que os dados macro e microeconômicos do período em que os pretensos culpados estiveram no poder atestem o contrário. Nada importa quando se tem a pretensão única e exclusiva de destruir adversários. Apesar dos meios de comunicação propagarem uma pretensa imparcialidade dos fatos, vê-se que não só estes, mas todos os agentes privados e públicos têm lado. Em nome do incontestável e todo poderoso, onipresente e onisciente Mercado, tem-se subjugado a população e a economia local aos seus interesses. O discurso é sempre o mesmo: é preciso reduzir o tamanho do Estado através das privatizações, reforma previdenciária, reforma trabalhista, reformas, reformas. Pouco se fala em reformar o orçamento para priorizar a educação e a saúde, por exemplo.

As redes sociais situam-se dentro desta realidade como uma pós-verdade. A verdade, hoje, não necessariamente corresponde ao real. Ela é determinada pela capilaridade que uma determinada narrativa ganha. Seja uma falácia ou mentira descarada, pode tranquilamente torna-se uma verdade por conveniência aos dogmas privados, econômicos liberais, políticos, morais e religiosos e pela intensidade com que ganha as redes sociais.

As narrativas construídas como forma de dominação elevam à categoria de verdades supremas questões subjetivas e, por outro lado, buscam deslegitimar verdades contundentes como a questão do racismo, da transfobia, do feminicídio, da luta de classes, etc. Tenta-se negar a realidade inventando-se outras verdades mais palatáveis ao senso comum.

A conduta do atual presidente do país tem sido vitoriosa neste aspecto. Ele duvidou da existência da Covid-19; menosprezou a todo tempo sua capacidade destrutiva de vidas; não mobilizou o governo com antecedência para adquirir vacinas; propôs um auxílio emergencial de apenas 3 meses no valor de R$ 300,00; trocou o ministro da saúde três vezes em menos de dois anos; autorizou o gasto de dinheiro público para fabricação de medicamento ineficaz; comumente provoca aglomerações e não usa a máscara. E mesmo assim consegue ter êxito na narrativa de culpabilizar os governadores e a oposição. Assim, temos que na guerra das narrativas políticas e econômicas a verdade pouco importa. Vale mais a conveniência, mesmo que esta nos custe 300 mil ou mais vidas.

*Enildo Luiz Gouveia é professor do IFPE e membro da Academia Cabense de Letras – ACL.

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Foto destaque: folha vitoria.com.br