Outro ano quase perdido
Carlos Sinésio*
Em 25.03.2021
Embora a equipe econômica do Governo negue e tente vender outra imagem mais positiva do Brasil, a verdade é que a economia caminha a passos largos para viver um 2021 muito ruim. Não tem como ser diferente. A situação, que em 2019 já era trágica para a grandeza do Brasil, se agravou profundamente a partir do início do ano passado, com o surgimento da pandemia causada pelo novo coronavírus.
Quando se imaginava que 2021 seria de recuperação dos índices econômicos, com a perspectiva da chegada da vacina contra a Covid-19, a pandemia se agravou e ganhou proporções catastróficas. Hoje vive seu auge. Ninguém, nem cientistas da área médica, nem economistas, nem futurólogos são capazes de prever o que realmente vai acontecer com o País, por mais que se tente. A recuperação econômica depende, impreterivelmente, do controle da pandemia.
Os números atuais que indicam a saúde financeira dos brasileiros e do País são sempre negativos, com raríssimas exceções, a exemplo dos que se referem ao agronegócio, que caminha e cresce de forma mais independente. Este é, de fato, o único grande setor que avança, sempre batendo recordes de produtividade.
Como se sabe, milhões de pequenas e microempresas fecharam e continuam encerrando as atividades, aumentando o gigantesco número de desempregados oficiais, que passa dos 13 milhões de trabalhadores. Isso sem falar em outro tanto de pessoas que são subempregadas, autônomas que fazem bico e têm rendas diminutas e irregulares.
Enquanto a Covid-19 avança e a economia não demonstra nenhuma vontade para se recuperar, muitas pessoas estão passando por extrema necessidade, sem dinheiro sequer para se alimentar. Os valores do auxílio dado pelo Governo Federal foram bastante reduzidos, assim como a quantidade de beneficiários que está caindo pela metade.
Não queremos aqui encher este texto de números tão usados pelo economês nem fazer previsões pessimistas ou futurologia barata. Não queremos ser simplesmente negativistas, mas enxergar e refletir sobre o óbvio mesmo. O propósito é refletir um pouco sobre a situação para ninguém se decepcionar, se frustrar ainda mais com o que pode estar por vir.
Os principais índices sócioeconômicos e a realidade a olhos vistos falam por si. Por isso, é difícil acreditar que o PIB nacional vá crescer este ano 3,2%, como espera o Governo e alguns setores do mercado financeiro. Ainda que isso aconteça, será muito pouco para melhorar de alguma forma a vida da nossa sofrida gente.
Vejamos a desvalorização do Real perante o Dólar, os altos preços dos combustíveis, com um botijão de gás sendo vendido por até R$ 100 em algumas regiões. Vejamos os índices inflacionários, ainda que sejam irreais, como bem sabe quem faz feira e frequenta supermercados.
Observemos nas ruas a quantidade de pessoas pedindo esmolas, suplicando por um prato de comida nas esquinas. Mesmo saindo pouco de casa, é possível constatar essa realidade tão triste e que certamente não mudará tão cedo. Infelizmente não deve mudar pra melhor.
Quando constatamos tanta gente na penúria, mendigando pra conseguir pelo menos o pão de cada dia, os que têm mais de 50 anos devem lembrar que, ainda no início dos anos 1980, a fome e sede levavam legiões de miseráveis a saquearem feiras e o comércio em rincões do Nordeste. As cenas eram de horror, de fazer arrepiar até os mais desprovidos de melhores sentimentos.
Esperamos que os governantes, que tanto dizem combater a corrupção, se conscientizem de que é preciso fazer muito mais. É necessário deixar a ideologização e o radicalismo político um pouco de lado e se unir. Assim será possível se buscar soluções urgentes para controlar a pandemia de Covid-19 e criar condições para a economia, de fato, voltar a crescer e proporcionar aos brasileiros melhores condições de vida.
*Carlos Sinésio é jornalista com 35 anos de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em diversas instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe.
Foto destaque: g1.globo.com