Abraçando a ira

Por

Jénerson Alves*

Em 28.01.2022

Uma manobra no trânsito. Um post nas mídias sociais. Um vizinho que liga o som. Uma palavra inconveniente. Muitos são os motivos que podem acender a raiva no dia a dia. E muitas são as pessoas que abraçam a ira, entregando-se a sentimentos coléricos e se deixando levar por atos agressivos.

Particularmente, acredito que há outra forma de “abraçar a ira”. É como São Paulo Apóstolo orientou os membros da igreja de Éfeso: “Irai-vos, mas não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”. O santo profeta não nos ensina a, de imediato, repelir a ira. Pelo contrário. Devemos recebê-la enquanto o sol está brilhando.

Em uma interpretação literal, isso significa que não podemos deixar a raiva morar em nosso coração durante mais de um dia. Porém, de forma alegórica, podemos entender que é preciso ‘abraçar a ira’ enquanto há claridade. Em outras palavras, devemos compreender as raízes da raiva que porventura nos assalta. Após entendermos o porquê de nossa tranquilidade ter sido desestabilizada, poderemos extirpá-la de forma conveniente. Assim, irando-nos, mas não pecando.

Permitir que “o sol se ponha” sobre nossa ira é deixar nossos sentimentos na penumbra; é fugir do autoconhecimento e andar claudicando pela estrada da existência. Este é o “pecado”: viver sem consciência. Enfim, que possamos “abraçar a ira” enquanto há clareza no nosso coração, para que esta luz extirpe as trevas da nossa ignorância e irradie as virtudes que vêm do Alto.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.     

Foto destaque: Pixabay