Covid-19 faz pobreza extrema crescer na América Latina após três décadas

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ONU News

Em 29.01.2022

Brasil é único país que experimentou diminuição no índice em 2020; pandemia de Covid-19 aumentou vulnerabilidade da região; número global da pobreza teve leve queda de 0,9%.

A Comissão Econômica para América Latina e Caribe, Cepal, divulgou um estudo que revela o aumento de pessoas na extrema pobreza na região.

Segundo o relatório, o número chegou a 86 milhões de pessoas, 5 milhões a mais que no ano anterior.

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Análises

Enquanto em 2020, o número era de 13,1% da população, no último ano o valor subiu para 13,8%. De acordo com a Cepal, esse é o primeiro retrocesso em 27 anos.

O documento afirma que a desigualdade aumentou entre 2019 e 2020, rompendo uma tendência decrescente que vinha sendo observada desde 2002.

O Coeficiente de Gini, utilizado internacionalmente para medir a distribuição de renda, aumentou 0,7% para a média regional entre 2019 e 2020. Segundo o estudo, essa deterioração está relacionada com as repercussões da pandemia.

A análise aponta que a região é a mais vulnerável do mundo à pandemia de Covid-19. A crise de saúde se tornou uma crise social e impulsionou a taxa de pobreza extrema na América Latina.

No entanto, a estimativa da comissão é que a taxa de pobreza geral teria diminuído ligeiramente, de 33,0% para 32,1% da população, totalizando em 201 milhões. O nível é similar ao do final da década dos anos 2000.

Desigualdades

Os maiores aumentos da pobreza ocorreram na Argentina, Colômbia e Peru, onde atingiram ou ultrapassaram 7%. No Chile, Costa Rica, Equador e Paraguai, o índice cresceu entre 3% e 5%.

Já Bolívia, México e República Dominicana, registraram aumento de menos de 2%.

O único país da região que experimentou uma diminuição da pobreza e da extrema pobreza em 2020 foi o Brasil.

A secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, explicou que apesar da recuperação econômica experimentada em 2021, os níveis relativos e absolutos estimados de pobreza e de extrema pobreza mantiveram-se acima dos registrados em 2019, o que reflete a continuação da crise social.

Para ela, a retomada não foi suficiente para mitigar os profundos efeitos sociais e do trabalho da pandemia, estreitamente vinculados à desigualdade de renda e gênero, pobreza, informalidade e vulnerabilidade em que vive a população.

América Latina e Caribe é uma das regiões do mundo que teve mais tempo de interrupção das aulas presenciais, em média cerca de 56 semanas de interrupção total ou parcial.

Segundo a Cepal, o fechamento das escolas gerou lacunas no desenvolvimento de habilidades cognitivas, perda de oportunidades de aprendizagem e risco de aumento do abandono escolar.

Além disso, gerou sobrecarga das tarefas de cuidado das mulheres. Por isso, a comissão destaca a urgência do retorno seguro às aulas presenciais em 2022.

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Futuro

No estudo, a Cepal ressalta que sem o controle da crise sanitária, a recuperação econômica não será sustentável.

A região apresenta o maior número de mortes registradas por Covid-19 em âmbito global, com 28,8% de casos fatais, apesar da região abrigar apenas 8,4% da população global.

Em 25 de janeiro de 2022, 62,2% da população da América Latina e do Caribe contava com o esquema completo de vacinação. A Cepal pede mais empenho para garantir que todos os países da região vacinem 70% de sua população até meados de 2022.

Para atingir esse objetivo, a comissão afirma que é urgente fortalecer os programas de compra de vacinas e os mecanismos de cooperação e coordenação regional.

Para a secretária executiva da Cepal, a pandemia é uma oportunidade histórica para construir um novo pacto social que dê proteção, certeza e confiança.

Ela afirma que os anos de menor crescimento econômico está chegando e, se não forem mantidos os esforços para proteger o bem-estar da população, serão maiores os aumentos da pobreza e da desigualdade na região.

Foto destaque: Unicef/Giacomo Pirozzi – Favela no Rio de Janeiro, Brasil