A guerra não é só de armas: nota geopolítica sobre a invasão da Ucrânia
Enildo Luiz Gouveia*
Em 01.03.2022
É fato digno de aplauso quando se vê mobilizações em várias partes do mundo contra os conflitos armados. Por outro, vemos a seletividade em parte por desconhecimento e em parte pelo apelo midiático com relação a outras guerras. Citamos por exemplo, os diversos conflitos armados que existem ainda hoje no continente africano e que não recebem o mesmo destaque jornalístico que os conflitos que eclodem no velho mundo. Também temos conflitos na Ásia e Oriente Médio que praticamente são ignorados por parcelas significativas da população, refém da cobertura da grande mídia.
Quando analisamos o conflito atual entre Rússia e Ucrânia, observamos a enxurrada de críticas direcionadas exclusivamente à postura da Rússia. De fato, sob os governos de Putin, a Rússia tem adotado uma postura mais agressiva interna (contra os críticos do governo) e externamente ao tentar se reposicionar na esfera global como uma potência econômica. Estranhamente, mas nem tanto, a mídia prefere ignorar as provocações feitas pela OTAN – a Organização do Tratado do Atlântico Norte, um verdadeiro resquício militar do período da guerra fria, em direção às fronteiras russas. Todo país tem o direito de entrar ou não na OTAN. Por outro lado, a Rússia tem o direito de não querer exércitos inimigos próximos a sua fronteira. Em 1962, durante a crise dos mísseis em Cuba, os EUA ameaçaram iniciar uma terceira guerra contra a ex-URSS dada a iminência de instalações militares muito próximas de seu território.
A mídia ocidental acusa com certa razão, Putin, de ser um louco com características nazistas. Mas, o que falar então do presidente da Ucrânia? Um ex-comediante que se elegeu sem nenhuma experiência política e divulgando vídeos no qual aparecia metralhando o parlamento (ver no link https://www.youtube.com/watch?v=AdTokJfWz3k). Parafraseando a passagem bíblica ‘aquele que não tem pecado, atire o primeiro míssil’.
Uma guerra não se faz apenas com armas. Faz-se, sobretudo e em primeiro lugar, com narrativas tendenciosas e falsas. Neste sentido, tanto a Rússia como o mundo ocidental são especialistas em camuflar a verdade e tentar colocar a opinião pública a seu favor.
O posicionamento seletista com relação às guerras atuais mostra muito mais do nosso desconhecimento e da nossa hipocrisia que de nossa solidariedade.
*Enildo Luiz Gouveia – Professor, poeta, cantor, compositor, teólogo e membro da Academia Cabense de Letras – ACL.