Ainda adianta orar?
Jénerson Alves*
Em 04.03.2022
Na primeira sexta-feira de março, comemora-se o Dia Mundial da Oração. A data começou no século XIX nos Estados Unidos e Canadá e consolidou-se no Brasil a partir de 1938, através da Igreja Presbiteriana. O momento é propício para unir grupos e realizar orações e súplicas, sobretudo para questões sociais. Em tempos difíceis como os que estamos passando, a esperança parece sucumbir diante do desespero, e a dúvida ergue a voz em inquietante indagação: “ainda adianta orar?”
Essa pergunta suscita reflexão. De modo geral, oração nada mais é do que falar com Deus. Porém, tal ato é tão sublime que as almas mais piedosas descreveram-no de formas variadas. São muitas as vozes do passado que se levantam para responder se ainda adianta orar. O pregador batista Charles Spurgeon declara: “Oramos como filhos de um pai, e oramos como irmãos, pois nós dizemos: ‘Pai nosso’”. A educadora adventista Ellen White sintetiza: “A oração é a respiração da alma”.
Santa Teresinha de Lisieux descreve: “Para mim, oração é um impulso do coração, é um simples olhar que se lança ao céu; é um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da provação, como no meio da alegria; enfim, é algo de grande, de sobrenatural, que me expande a alma e me aconchega a Jesus”.
O testemunho dos padres do deserto, no quarto século, depõe como um contraste à vida desregrada. Eles buscavam na vida monástica desenvolver a ‘nepsis’ (sobriedade e vigilância, ou seja, guarda do intelecto) e a prece contínua. A Filocalia registra que Nilo, o Asceta, fez a seguinte comparação: “O corpo tem o pão como alimento; a alma, a virtude; o intelecto, a oração espiritual”.
Percebe-se que, mais do que um momento solene – público ou privado –, a oração é um estilo de vida. O homem atual, secularizado, que vive em um mundo às avessas, pouco dobra seus joelhos, muito menos prostra o coração perante o Eterno. Talvez (também) por isso, sinta-se à deriva no mar da existência. Quiçá a oração seja uma porta de saída deste estado de vazio – um derramar do Oceano na alma sedenta, um pedaço do céu que purifica o lodo desta terra.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Imagem: Monges em Oração, de Alessandro Magnasco