Caruaru e sua Academia de Cordel
Jénerson Alves*
Em 24.06.2022
Talvez um leitor desatento não perceba, mas a Literatura de Cordel possui vertentes variadas e especificidades regionais. É claro que as exigências inerentes ao gênero – tais como rima, métrica e oração – são imutáveis, mas há estilos e formas que se configuram em conformidade com a geografia da produção. Neste sentido, percebo em Caruaru um diferencial em relação ao Nordeste inteiro. É como se o Cordel escrito na Terra de Vitalino fosse escrito como quem trabalha com barro: moldando cada detalhe e fazendo as formas ganharem vida.
Tal especificidade adquire um contorno ainda mais peculiar, quando observamos o papel da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel (ACLC). A instituição, ao mesmo tempo, preza pela tradição e promove diálogo com o futuro. Assim, mantém firmes os elementos basilares da lira cordeliana, contudo conversa com a juventude e promove atividades que formam e atraem novos leitores.
Um grande exemplo foi a ‘Noite da Academia no Polo do Repente’, em plena véspera de São João. Durante mais de duas horas, integrantes da ACLC presentearam uma vasta plateia com rimas, causos e versos. Isso comprova que há lugar, sim, para a poesia na vida das pessoas. E o público gosta de ouvir, ler e consumir textos em versos. A inserção desse momento na grade revela um olhar amplo da produção do Polo e da gestão municipal como um todo.
Na mesma data, a Academia também foi agraciada com votos de aplauso da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). A homenagem partiu de uma iniciativa do deputado estadual Erick Lessa, através do requerimento nº 004337/2022, aprovado por unanimidade pelo plenário. O voto foi alusivo ao aniversário de 17 anos da entidade. Uma jovem instituição, movida por sonhos. Seus poetas, como artesãos da vida, usam as mãos para moldar o barro das letras.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Imagem: Viliane Gomes