Cristianismo Primitivo e Paideia Grega

Por

Jénerson Alves*

Em 05.05.2023

Com uma média de 150 páginas, o livro ‘Cristianismo Primitivo e Paideia Grega’ é pequeno em tamanho, mas gigante em relevância. A obra foi escrita pelo filósofo alemão Werner Jaeger, uma referência mundial no assunto. O livro foi formado a partir das conferências proferidas pelo autor na Universidade de Harvard em 1960, pouco antes da sua morte (que ocorreu em outubro de 1961).

Ao longo dos capítulos, o autor investiga e esclarece pontos de relação entre a cultura e filosofia gregas e o Cristianismo dos primeiros séculos. Jaeger observa as influências helenistas desde o uso do grego no Novo Testamento até os tempos pós-apostólicos, com os denominados Pais da Igreja. Ora, se no livro de Atos vê-se São Paulo pregando no Aerópago para estoicos e epicureus, no apócrifo Atos de Felipe o apóstolo Felipe teria dito ao mesmo público que chegara a Atenas “para revelar-lhes a ‘paideia’ de Cristo’”.

Embora seja um termo de difícil tradução, podemos entender ‘paideia’ como a formação integral humana, incluindo aspectos culturais e espirituais. O autor do livro indica que esse pensamento percorre várias etapas históricas, passando por São Clemente Romano – o qual aponta a ‘paideia’ cristã como uma força protetora. Apologistas como Justino e Fílon de Alexandria também bebem na fonte de filósofos como Platão e Aristóteles, amalgamando a tradição grega com a doutrina do Logos encarnado. Tais pensamentos percorreram o neoplatonismo (basta lembrar que Orígenes e Plotino estudaram juntos na escola de Longino); consolidam-se junto aos alexandrinos e ganham maior solidez com os padres capadócios, como São Basílio, São Gregório Nacianceno e São Gregório de Nisa, este último com uma mente filosófica tal que entendia o Paráclito como grande educador.

Em meio a essas análises, Jaeger ainda ressalta um ponto para os quais muitos historiadores mantêm-se cegos: a influência do primitivo cristianismo no que tange à sobrevivência da literatura e da cultura clássicas. Trata-se, pois, de uma obra que não se acaba na última página, mas provoca o leitor a continuar suas pesquisas – e textos fundantes do próprio Werner Jaeger, como ‘Paideia, a formação do homem grego’, são essenciais para esse fim.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Imagem: Divulgação