Voz no Silêncio
Jénerson Alves*
Em 28.04.2023
Sem dúvida, há uma voz que fala no Silêncio. O poeta Hermes Fontes chamou-o de “amigo e mestre”. Há um som inaudível pelos ouvidos físicos. Uma música que só os corações sensíveis podem abrigar.
Lembro-me que São José estava em meio ao Silêncio da noite quando ouviu a voz de um anjo. Maria preferia guardar as coisas essenciais no coração, sem proclamá-las aos quatro ventos. O Silêncio também a exortava.
Na epístola de São Tiago, vemos o conselho para o homem ser tardio no falar e, sobretudo, pronto para ouvir. Em seguida, o autor aponta que há uma sabedoria vinda do Alto. Seria ela obtida através do Silêncio? É algo a se pensar…
Conta-se que Hermes Trismegistos dizia que a Fonte do progresso civilizacional da humanidade jorra “da Sabedoria que pensa no Silêncio e da Semente que é o Único Bem”.
O filósofo brasileiro Huberto Rohden explicava que o silêncio era fator creativo (com “e”, mesmo, significando a manifestação da Essência na existência). Ele diferenciava o “silêncio-vacuidade” do “silêncio-plenitude”. “Silêncio é essência causante; ruído é existência causada (…), Silêncio é Fonte única; ruído são canais múltiplos”.
Neste mundo, corroído pelos ruídos, o vazio enche as pessoas de barulho. O esvaziar-se de sons será um bálsamo para aqueles que buscam a Vida Espiritual. É neste ‘lugar’ que se canta e dedilha a canção do Amor…
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Imagem: O sonho de São José, de Anton Raphael Mengs