Imprensa livre

Por

Carlos Sinésio*

Em 14.07.2020

Criticar o trabalho da imprensa em geral ou de determinados veículos de comunicação, em particular, é uma prática de governantes e autoridades bem antiga no Brasil.

Em um regime democrático, mesmo principiante como o daqui, onde a imprensa goza de liberdade, é comum os governos (sobretudo os maus gestores) condenarem o comportamento de veículos quando estes os criticam, denunciam ou desagradam. É que nenhum governo gosta (e poucos aceitam democraticamente) de ser criticado.

Nas últimas três décadas, vimos muitas vezes governantes no Brasil elegerem canais de televisão, jornais e revistas como seus inimigos, porque fazem denúncias contundentes contra suas falcatruas e a má gestão dos recursos públicos.

Ora, é papel preponderante do jornalismo fiscalizar e denunciar o que estiver errado e, se for o caso, elogiar ações ou pessoas que façam por merecer isso. Para muita gente, a imprensa e a Justiça só são boas, justas, idôneas, imparciais quando lhe beneficiam de alguma forma. Não podemos concordar com esse pensamento. Existe o fato, a verdade o outro lado da moeda que deve ser considerado.

Revistas como IstoÉ e Veja, jornais a exemplo da Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo, entre outros veículos, foram inúmeras vezes acusados e processados por maus gestores, por levar ao conhecimento da sociedade fatos e posturas políticas altamente maléficas e comprometedoras. Claro que o jornalismo sério erra, mas acerta quase sempre, pois procura se garantir de provas.

Certamente, nenhum veículo tenha sido mais criticado e detestado por governantes e seus asseclas e seguidores do que a TV Globo. Mesmo assim, ela sempre deteve a maior audiência no País entre todos os canais, levando diariamente à casa dos brasileiros e brasileiras telejornais de peso. O velho Jornal Nacional continua sendo o programa de notícias mais influente, queiram ou não os juízes.

Os governos, de todas as colorações partidárias e vieses ideológicos, sempre acusam a Globo de lhes fazer oposição, de ser parcial e injusta, mas nunca reconhecem os próprios erros, mesmo quando são condenados pela Justiça.

A Globo pode cometer seus pecados e deve cometê-los, como qualquer veículo, pois também tem seus interesses comerciais. Mas, na verdade, faz um jornalismo que goza ainda de muita credibilidade, pois costuma mostrar muitas coisas que outros canais omitem por razões as mais diversas. Quem se achar prejudicado tem a Justiça para reivindicar seus direitos, como tantos já fizeram.

Os governantes e seus seguidores precisam separar o joio do trigo. Devem saber que imprensa de verdade não existe para agradá-los, mas para prestar um serviço à sociedade.

Não é papel dos veículos bajular gestores públicos e autoridades. Estes geralmente são bem pagos para atender as necessidades da população, administrando e aplicando corretamente os recursos públicos.

*Carlos Sinésio é jornalista. Escreve às terças-feiras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.