Quase 50 milhões de brasileiros dizem ter sofrido constrangimento em abordagem policial

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Agência UNESCO

Em 14.07.2020

Uma pesquisa inédita apresentada em webinário realizado na semana passada  pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e parceiros mostrou que 49 milhões de brasileiros declararam já ter sofrido algum tipo de constrangimento durante abordagem policial. A pesquisa também apontou que 64% dos homens negros das classes C, D e E já foram abordados pela polícia de modo agressivo e apenas 5% dos brasileiros consultados disseram acreditar que a polícia não é racista.

A série de webinários Fórum Data Favela, promovido pela Central Única das Favelas (Cufa), Instituto Locomotiva e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, teve a sua quarta e última edição na quarta-feira (8).

Com o tema “Periferia, Racismo e Violência”, o encontro discutiu a violência nas áreas de periferia e abordou também a atuação da polícia nas favelas.

Participaram do encontro a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Noleto; o CEO do Favela Holding e fundador da Cufa, Celso Athayde; o presidente e fundador do Instituto Locomotiva, Renato Meireles; o secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, coronel Álvaro Baptista Camilo; o ouvidor das Polícias de São Paulo, Elizeu Soares Lopes; a coordenadora da Rede de Observatórios de Segurança/CESEC, Silvia Ramos; a coordenadora do Instituto Marielle Franco, Marcelle Decothé; e o rapper e compositor Rappin’ Hood.

De acordo com uma pesquisa inédita apresentada pelo Instituto Locomotiva no encontro, 49 milhões de brasileiros declararam já ter sofrido algum tipo de constrangimento em uma abordagem policial – como agressão verbal, agressão física, pedido de dinheiro etc.

A pesquisa indicou ainda que 64% dos homens negros das classes C, D e E disseram já ter sido abordados pela polícia de modo agressivo e apenas 5% dos brasileiros disseram acreditar que a polícia não é racista, lembrou o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meireles.

Os participantes também citaram casos de grande repercussão, como o do menino João Pedro Matos, de 14 anos, que morreu baleado após uma ação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), e do norte-americano George Floyd, homem negro asfixiado por um policial branco em Mineápolis, nos Estados Unidos. Também mencionaram a escalada de violência envolvendo policiais no Rio de Janeiro (RJ) registrada pela Rede de Observatórios de Segurança.

O secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, coronel Camilo Álvaro Baptista, afirmou que a polícia do estado não compactua com atitudes de violência. “Nosso esforço é enorme. Estamos abertos a aprender e a rever procedimentos de gestão da nossa conduta. Nos preocupamos com os direitos humanos e em tratar as pessoas como nós gostaríamos de ser tratados”.

A diretora da UNESCO no Brasil, Marlova Noleto, lembrou que as Nações Unidas coordenam, há anos, a campanha Vidas Negras.

“Sabemos do esforço da polícia e também sabemos das dificuldades da população negra. Acredito que todas as organizações precisam ser transformadas. É preciso um esforço para combater o racismo e não permitir nenhuma ação que possa levar a uma situação de racismo estrutural. É um debate extremamente necessário e está sendo muito rico ouvir todas as diferentes perspectivas. O que precisamos entender é que existe, de fato, uma preocupação com os direitos humanos.”

A quarta edição da série “Fórum Data Favela” contou com ampla participação dos internautas. Todas as outras edições do fórum já estão disponíveis e podem ser acessadas no canal da UNESCO no YouTube.

Foto: EBC/Marcelo Camargo