Educação

Sobre o famoso “fracasso” da educação brasileira

Enildo Luiz Gouveia*

Em 12.02.2025

E quando esta ideia está impregnada por uma cultura capitalista cuja medida de felicidade e realização é a fama e o acúmulo de capital nas suas mais diversas variedades, perdemos a real dimensão da importância da educação, da leitura, da arte e do próprio pensar.

Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que apesar de ser docente há mais de 20 anos não me considero um especialista em educação. Tenho elementos teóricos e, sobretudo, muita prática de sala de aula que perpassam por todos os níveis da nossa educação e  me fazem refletir e opinar sobre a Educação brasileira. Aliás, acredito que se ouvíssemos mais os docentes, que são os que mais entendem do assunto, poderíamos ter um quadro melhor.

A questão sempre presente é; para que serve a Educação formal? Há várias opiniões sobre o assunto, mas cresci e ainda hoje escuto a frase absurda que diz: Estude pra ser alguém na vida! Digo absurda porque este “ser alguém na vida” em geral está associado à ideia de riqueza material, ter um bom empreso, ganhar bem, etc. Daí que, quando a criança, adolescente ou jovem vê alguém rico, mas que não precisou estudar muito – como é o caso de vários jogadores de futebol, cantores e até mesmo empresários e políticos, a importância de estudar cai por terra. Para mim, é claro e transparente que este é o principal equívoco na educação brasileira. Não se deve estudar ou ir pra escola, universidade com o intuito de ficar rico. A riqueza que o estudo e a educação formal nos trazem é de outra natureza. Mesmo em se tratando de riqueza financeira, através da educação não se conquista em curto prazo. Por baixo, são necessários 16 anos de estudo que incluem a educação básica e superior. Assim, convencer um adolescente ou jovem – especialmente das periferias onde as necessidades são pra ontem – que ele deve estudar pra ser alguém na vida, é um desafio gigantesco.

74 % dos brasileiros não leram um livro sequer em 2024

Como consequência desse e de outros equívocos na educação brasileira temos problemas que envolvem o pouco gosto pela leitura onde, conforme matéria da Folha de São Paulo disponível no link https://www.instagram.com/p/DE4_cJJvk-i/?igsh=YWIxb3ZrNG91NnN3,  74 % dos brasileiros não leram um livro sequer em 2024; Dificuldades na comunicação oral e escrita em função de excesso de exposição às redes sociais (cultura imagética) como destacado na matéria disponível no link  https://www.instagram.com/p/DEctKtuRmW5/?img_index=1&igsh=bGZpcjJ6bXB4c2xr, e a consequente propensão à crença acrítica em tudo que lê na internet, incluindo as Fake News. E a pouca procura por cursos de licenciatura. Nesta última questão temos o cúmulo da contradição, pois, é unânime a ideia de que o professor/a é uma figura de extrema importância para um país. Chegamos ao absurdo de pagar antecipadamente um valor para que estudantes se motivem a fazer licenciatura através do programa Pé-de-meia do governo federal (https://www.edmarlyra.com/pe-de-meia-mec-pagara-r-1-050-por-mes-para-universitarios-de-licenciatura/, sendo que nada garante que o estudante que conclua a licenciatura de fato vá trabalhar na sala de aula.

Poderíamos enumerar outros equívocos na educação brasileira que envolvem salários dos profissionais da educação, estrutura das escolas, qualidade no ensino, currículos, entre outros. Mas, para se implantar um sistema educacional é preciso se ter a ideia sobre o sistema, ou seja, saber quais seus fundamentos, seus princípios e modelos. E quando esta ideia está impregnada por uma cultura capitalista cuja medida de felicidade e realização é a fama e o acúmulo de capital nas suas mais diversas variedades, perdemos a real dimensão da importância da educação, da leitura, da arte e do próprio pensar.

*Enildo Luiz Gouveia – Professor, poeta, cantor, compositor, teólogo e integrante da Academia Cabense de Letras – ACL

Imagem – Web

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