Vivenciando a saudade

Por

Valéria Saraiva*

Em 10.08.2020

Quando pesquiso a palavra saudade na internet, no dicionário do “Google”, a definição que tenho é: “Sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas.”

Diz Luís Fernando Veríssimo: “Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.”

Na semana passada, falando com um amigo de trabalho sobre a perda de seu pai há aproximadamente três meses, aos 84 anos de idade, parei para refletir;  como será pra ele passar o Dia dos Pais sem o pai pela primeira vez.

Lembrei-me dos meus avós. Tive a sorte de conviver com meus avós maternos e meu avô paterno por muitos anos. Isso é um privilégio negado a muitos.

Meu avô José Saraiva, em especial, me influenciou muito a estudar, ler livros. Por causa dele escrevi meu primeiro poema aos 15 anos.

Ele já é falecido e deixou saudades. Mas deixou boas recordações que guardo no coração. Minha mãe, depois da perda dele, precisou de um ano pra conseguir tirar o luto. Ainda sente saudades, mas consegue lidar bem com isso.

O luto é necessário e se não for devidamente vivenciado pela família, pode deixar sequelas emocionais que só uma terapia pode resolver.

Mas nesse luto é preciso alimentar pensamentos positivos. Lembrar as coisas boas daquele ente querido que partiu.

Talvez seja mais fácil lidar com a perda de alguém que se preparou para a morte. O maior arrependimento de pacientes em estado terminal nos leitos dos hospitais é o de não ter tido tempo para viver plenamente suas vidas. Muitos passam a vida se dedicando ao trabalho e não têm tempo para curtir a família, os amigos e aproveitar melhor os momentos de lazer.

Lembro-me das histórias e anedotas que meu avô contava e das brincadeiras também. Sempre tinha uma roda de amigos jogando canastra ou gamão. Acabei aprendendo pra participar da brincadeira. Ele e minha avó tiveram a oportunidade de viajar bastante, formaram uma família grande, com filhos, netos e bisnetos. Ele só barganhava com a morte quando fazia aniversário. Depois que chegou aos 80 anos, ele dizia: – Só quero agora chegar aos 90 anos.

Pois é, vovô. Foi quase. Faltaram só dois anos para você conseguir. Você deixou muita saudade. E um exemplo que vou levar por toda a minha vida.

*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro Lírios, tulipas e escorpiões e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.