A difícil inclusão escolar
Ana Rosa Lira*
Em 03.09.2020
Falar em inclusão escolar é uma tarefa difícil, pois trata-se de um tema de ampla magnitude. Contudo, percebe-se que o termo inclusão escolar está mais relacionado às questões inerentes à inserção de pessoas com deficiência, seja física ou mental, nos espaços escolares.
Existem grandes barreiras e preconceitos em torno desta temática. Infelizmente, se verifica que muitas instituições escolares ainda apresentam uma enorme resistência em aceitar a matrícula de crianças e jovens com deficiência, mesmo estando cientes de que tal recusa constitui-se em crime, cabível de processo judicial.
Portanto, é direito a oferta de ensino aos alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) na rede regular de ensino, inserindo os mesmos, no ambiente escolar a que fazem jus e não criar uma escola só voltada para esses alunos, visto que, isso é uma realidade que faz parte do passado.
Partindo desse princípio, a inclusão escolar volta-se para a perspectiva da educação inclusiva, que entende a educação especial dentro da escola regular. Isso transforma a escola em um espaço para todos, onde haja respeito aos seres humanos como um todo, levando-se em consideração suas peculiaridades físicas, morais, intelectuais, culturais e socioeconômicas.
O discurso da educação inclusiva, associado a inclusão escolar, está fundamentado na ideia da educação como um direito que pertence a todos. É nocivo e devastador para as pessoas com deficiência a percepção e o sentimento de “ficar de fora”, uma vez que seres humanos são gregários por natureza. São seres sociáveis, que necessitam do sentimento de pertença e aceitação.
Muitas pessoas não suportam a ideia de serem rejeitadas, pois sentir-se à margem, estar segregado ou excluído gera um cruel processo de aniquilamento da autoestima, provocando, a longo tempo, feridas que não são visíveis. Contudo, tais feridas, podem possuir um efeito devastador na alma do indivíduo no decorrer de toda a sua vida. São feridas de caráter emocional, que acarretam marcas profundas advindas dos problemas vividos na infância e que determinam, muitas vezes, como será a qualidade de vida quando adultos.
Uma das feridas emocionais mais profundas é a da rejeição. Quem é vitimado por ela sente-se rejeitado internamente, interpretando o mundo e tudo o que acontece ao seu redor através do viés da sua ferida, podendo às vezes, se sentir rejeitado em situações em que, na verdade, não é.
Quem sofre alguma deficiência, seja física ou intelectual, sabe bem disso. A rejeição, na escola, por exemplo, é vivenciada através do bullying, com os alunos considerados “diferentes”, ou seja, aqueles que não seguem os padrões sociais pré-estabelecidos.
Portanto, desde cedo é um desafio a inclusão de pessoas com deficiência nos mais diversos âmbitos sociais. Principalmente, na escola e no trabalho, pelo simples fato da maioria das pessoas não saber conviver com a diversidade humana.
Por sua relevância e alcance social, este é um assunto que precisa ser cada vez mais debatido pela sociedade. Isso para que a inclusão escolar passe a ser, de fato, uma realidade para todas as pessoas, independente de classe social.
*Ana Rosa Lira é psicóloga, psicopedagoga escolar, mestre em Educação e professora universitária.
Foto destaque: inclusive.org.br
Tema que merece entrar na pauta dos atuais e, principalmente, dos futuros prefeitos.
É verdade. Os gestores devem cada vez mais serem sensíveis a essa causa.
Muito bom! Tema bastante atual e muito importante.
Verdade. É que precisa ser amplamente discutido pela sociedade.
E*
Ana Rosa esse tema é muito importante para a nossa reflexão! Como vivemos numa sociedade não inclusiva , a escola, também, tem dificuldades nessa Inclusão, embora esforços são feitos na direção inclusiva. Reflexão pertinente !! Parabéns!
Com certeza Vera Braga, a inclusão escolar através de uma perspectiva inclusiva, perpassa pelo processo de legitimação social. Obrigada!