Reeleição vale a pena?

Por

Carlos Sinésio*

Em 15.09.2020

Reeleição para ocupantes de cargos no Poder Executivo no Brasil é daqueles assuntos que, de vez em quando, ressurgem na política e na mídia, mas logo desaparecem. Certamente porque contraria interesses de quem está e gosta de se manter no poder e, para isso, faz qualquer acordo, até mata e esfola.

Desta vez, o tema ganhou mais espaço e atenção por ter sido levantado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sim ele mesmo, o primeiro e principal beneficiado com a instituição do direito de presidente, governadores e prefeitos poderem ser candidatos à reeleição para um segundo mandato.

A reeleição no Brasil foi implantada em 1997, após o Congresso aprovar uma emenda constitucional apresentada pelo então deputado pernambucano Mendonça Filho, que viria a ser governador de Pernambuco e ministro da Educação. O presidente, em 1997, era exatamente FHC, que apoiou fortemente a emenda da reeleição, acabou disputando e sendo reeleito.

Na semana passada, em artigo publicado inicialmente nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, FHC se posicionou contrário à reeleição. Entre os seus motivos, acredita que quem é eleito presidente, governador ou prefeito quase sempre exerce o mandato trabalhando em função da reeleição.

O artigo de FHC repercutiu bastante na mídia nacional. Para o respeitado jornalista político Elio Gaspari, que escreve para O Globo e outros veículos, “FHC reconheceu a ruína que criou”. E foi mais longe, ao analisar a questão: “Quando o governante pode ser reeleito, trabalha de olho nesse prêmio”, afirmou.

Que isso é verdade é. E faz um mal tremendo à sociedade. Mas tem muito mais. Quem concorre a um segundo mandato consecutivo leva enormes vantagens sobre os demais concorrentes. É que tem a máquina pública na mão, dispõe de centenas ou milhares de cabos eleitorais ocupantes de cargos comissionados, de confiança, pagos pelo erário. É algo imensamente injusto e desleal com outros concorrentes, é totalmente contrário aos interesses democráticos.

Hoje o próprio FHC sabe – e ele sabe muito mesmo – que a reeleição é maléfica para os brasileiros, causa prejuízos incalculáveis à sociedade. E defende um mandato de cinco anos para presidente, governador e prefeito. Possivelmente tem razão. Esse é um tempo mais do que suficiente para um gestor decente, se quiser, realizar uma excelente gestão.

Assunto posto à mesa, é tempo para a sociedade voltar a discuti-lo com seriedade e consertar esse equívoco, se assim bem entender. Primeiro beneficiado, o ex-presidente FHC, figura de respeito internacional, reconhece finalmente que a reeleição não é uma coisa boa para prefeituras, estados e o País. Muito menos para cidadãos e cidadãs. Ainda bem que agora pensa assim. Antes tarde do que nunca!

*Carlos Sinésio é jornalista. Tem 55 anos e 35 de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio. Foi repórter free lance no jornal O estado de São Paulo e na revista IstoÉ. Escreve às terças-feiras.

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Foto destaque: estadodaarte.estadao.com.br