“Trabalhar para pobre é pedir esmolas para dois!” Será?

Por

Veridiana Duarte Alves*

Em 15.09.2020

“Trabalhar para pobre é pedir esmolas para dois!” Essa frase que ouvi recentemente, entre tantas outras depreciativas para a precificação ou remuneração justa do trabalho, foi para mim particularmente impactante. Fiquei refletindo por alguns dias. Matutava: Se quantifico o meu trabalho num nível acessível, sou ‘pobre’ e, consequentemente, não alcançaria a riqueza à qual supõe-se ligada a felicidade? Mas, vamos lá entender o que é a pobreza. Numa das definições encontradas na internet, é “a falta daquilo que é necessário à subsistência; penúria”. Será que apenas o dinheiro é necessário para a sobrevivência? Entristeci-me com a frase, pois o dinheiro não tem esse valor, são as pessoas que têm verdadeira importância nas nossas vidas e a prática da ajuda sem esperar paga traz uma satisfação tão grande que não daria para descrever em tão frias linhas.

Os valores precisam ser medidos moralmente. Os recursos financeiros são de fato necessários, mas não é tudo que é necessário para a sobrevivência. Prova disso é o amor, o carinho, o abraço, a fala amiga, a compreensão, entre outros valores, que contribuem para a nossa sobrevivência. Dado isso, lembro das histórias contadas sobre banzo, definido por Nei Lopes como sendo “… uma nostalgia mortal que acometia negros africanos escravizados no Brasil.” Pode-se falar que banzo é um sinônimo de depressão. Mesmo sendo alimentados, eles morriam de banzo. Não era a falta de dinheiro que matava, era a saudade.

“Agradeço ao destino por ter-me feito nascer pobre. A pobreza foi-me uma amiga benfazeja; ensinou-me o preço verdadeiro dos bens úteis à vida, que sem ela não teria conhecido. Evitando-me o peso do luxo, devotou-me à arte e à beleza.”

Anatole France

Ser pobre tem várias conotações. Podemos ser pobres de espírito, devido à baixa moralidade, que pode levar às ações mais estarrecedoras. O escritor francês Anatole France (1844-1924) refletiu: “Agradeço ao destino por ter-me feito nascer pobre. A pobreza foi-me uma amiga benfazeja; ensinou-me o preço verdadeiro dos bens úteis à vida, que sem ela não teria conhecido. Evitando-me o peso do luxo, devotou-me à arte e à beleza.” Avaliando diante disso tudo se a riqueza é o caminho para a felicidade, o jornalista estadunidense Kin Hubbard (1868-1930) disse: “É difícil dizer o que traz a felicidade. A pobreza e a riqueza, por exemplo, já fracassaram”. Assim, continuo com a convicção de que o dinheiro sem moral não constrói o futuro de felicidade tão almejado.

*Veridiana Duarte Alves é contadora, administradora, especialista em Gerência Contábil, Auditoria, Perícia e Controladoria. Pós-graduanda em Gestão de Projetos Sociais do Terceiro Setor. E-mail: veriduarte13@gmail.com

Foto destaque: academiadoaprendiz.com.br