Uma raposa no galinheiro

Por

Carlos Sinésio (*)

Em 11.06.2020

Desde o fim da Ditadura e do começo da redemocratização em 1985, com a eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência da República, a forma de fazer política no Brasil sempre foi a mesma. Mudaram governos dos mais variados partidos, mas a politicagem sempre foi no modelo do toma-lá-dá-cá. Quem é do ramo sabe bem disso.

Infelizmente, a sociedade ainda não se deu conta de que uma mudança nessas práticas condenáveis de se fazer política à base de troca somente terá fim, ou pelo menos diminuirá, se essa decisão partir dela própria.

Bolsonaro foi eleito prometendo acabar com essa prática. Prometeu, mas não cumpre o prometido. Com a popularidade bem mais baixa do que quando assumiu a Presidência, brigando com o Legislativo e com o Judiciário e rompendo politicamente com antigos aliados, ele vai ficando acuado. Para sair da situação difícil e ter condições de se manter no Poder, vem se aliando a pessoas que antes dizia rejeitar e que já foram condenadas pela Justiça por corrupção e outros crimes.

A saída de Bolsonaro acabou sendo aliar-se ao chamado Centrão do Congresso Nacional, aquele grupo de centro-direita que reúne parte dos políticos que ele tanto criticava. Assim, vem acomodando profissionais da velha política em cargos do Governo federal, como fizeram tantos outros ex-presidentes ao longo da República. No caso atual, quer evitar um processo de impeachment que poderá destroná-lo, tudo por causa da má gestão e dos erros que vem cometendo de forma contumaz.

O ápice dessa acomodação acaba de acontecer. O presidente decidiu recriar o Ministério das Comunicações e escolheu o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), casado com Patrícia Abravanel, filha de Silvio Santos, o famoso apresentador de TV e empresário do Baú da Felicidade, para ser o titular da pasta.

É lamentável que nossos líderes não cumpram a palavra empenhada em campanha eleitoral, passando a trair e a enganar não só seus eleitores, mas também toda a sociedade. Isso porque quem vence não é presidente apenas de parte do País e dos seus eleitores, mas de toda uma Nação que trabalha e paga seus impostos para ser bem governada. Aliás, os governantes são bem pagos e gozam de regalias para isso.

Mas o que esperar de pessoas que pensam muito mais nos interesses particulares do que no bem-estar comum da sociedade? É verdade que alguns governantes fizeram coisas boas para a população e para o País. Mas todo foi ainda muito pouco para suprir as necessidades das pessoas e colocar o Brasil, de fato, no caminho do desenvolvimento.

Quanto ao fato de Fábio Faria assumir o Ministério das Comunicações, tendo como sogro Silvio Santos, isso nos faz lembrar que nunca foi positivo para a coletividade uma raposa tomar conta do galinheiro. Nesses casos, as vantagens sempre foram exclusividade da raposa. Duvidamos muito que desta vez seja diferente.

Jornalista Carlos Sinésio nasceu em Pesqueira (PE), em 1965. Formado em jornalismo pela Unicap em 1986, é pós-graduado em Administração de Marketing na FCAP/UPE (1997/98). Atuou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco e prestou serviços para O Estado de São Paulo e a revista Istoé. Foi secretário executivo de Comunicação Social (2012 a 2016) da Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho (PE)