Um estadista, de fato

Por

Dorgival Soares da Silva*

Em 11.06.2020

No engenho Massangana, em Cabo de Santo Agostinho (PE), Joaquim Nabuco passou seus primeiros oito anos, sob os cuidados de padrinhos.

“Das recordações da infância a que eclipsa todas as outras e a mais cara de todas é o amor que tive por aquela que me criou até os meus oito anos como seu filho … Ela era de grande corpulência, inválida, caminhando com dificuldade, constantemente assentada …”

Diplomata, abolicionista e historiador, Nabuco foi um atento observador da política, interna e externamente. Escreveu sobre o protoditador chileno, José Balmaceda, que presidiu o Chile entre 1886 e 1891.

“Em junho de 1890, Balmaceda divulgou seu plano, que seria uma revolução completa no governo do Chile. Propunha a onipotência do Poder Executivo e a degradação do Congresso. Seria o abandono das liberdades adquiridas, a incapacidade do país para se governar por si, o funcionamento de instituições que são o último progresso a que atingiu a representação dos povos livres.”

Acrescentava: “Em nossos países, onde a nação se mantém em menoridade permanente, as liberdades, os direitos de cada um, o patrimônio de todos, vivem resguardados apenas por alguns princípios, por algumas tradições ou costumes, que não passam de barreiras morais, sem resistência e que o menor abalo deita por terra.”

Vaticinador.

Sobre o Balmaceda, sua aventura não deu certo. Suicidou-se. Pelo menos foi digno. Antes, porém, sua disputa com o Congresso causou uma Guerra Civil.

Foi testemunha de demagogos e trapaça política, inclusive nos EUA, quando da eleição de Rutherford Hayes em 1877, após ter perdido pelo voto popular para o democrata Samuel Tilden, e ganho no Colégio Eleitoral por um voto!

Coincidência, dirão alguns, mas a eleição de pessoas como Hayes se deu após a chamada ‘Revolução Jacksoniana’, com a eleição de Andrew Jackson, o primeiro homem comum vindo socialmente de baixo à Casa Branca, após a geração dos Pais Fundadores da Pátria, que eram aristocráticos grandes proprietários rurais. A partir daí começava o elitismo misturado com populismo.

“Os que o vêem indicar o perigo de um lado e logo do lado oposto, julgam-no incoerente, mas é que a estrada corre entre precipícios e que ele olha à direita e à esquerda e não vê os abismos somente de uma margem.” (Joaquim Nabuco)

Parece atual?

Não vou falar agora do papel do Nabuco abolicionista para não os cansar.

Vou colar um pequeno texto sobre sua importância como diplomata:

“Em 1905, Brasil e EUA elevaram suas missões diplomáticas a
embaixadas.

Embaixadas? E daí?

Não era comum países concordarem em ter embaixadas. Só as nações que consideravam importantes eram aceitas.

Nesta época, por exemplo, só havia sete embaixadas em Washington. Países latino-americanos, só o vizinho México. No Rio, não havia nenhuma.

Os americanos nos viam, então, como o parceiro mais relevante na América do Sul.

Os argentinos não gostaram; diziam que o Brasil se isolava ao pretender colocar-se em categoria superior à dos demais países.

Aqui, também, parecia uma extravagância: “Grave erro de política internacional (…) megalomania condenável (…) mero luxo injustificável”, gritava o Jornal do Brasil.

Para conduzir a embaixada nos EUA, o Barão do Rio Branco designou Joaquim Nabuco.

Nabuco, não foi só “um embaixador do Brasil, mas o embaixador por excelência, o primeiro e o maior de todos”, diz Rubens Ricupero.

Como reflexo da nossa perda de importância, por pouco não tivemos um experiente “intercambista” a nos representar naquela embaixada.

*Dorgival Soares da Silva é Administrador de Empresas. Pernambucano de Vitória de Santo Antão, está radicado em São Paulo desde 1992