O problema do ser, do destino e da dor

Por

Jairo Lima*

Em 21.03.2021

Em seu livro espírita que intitula esse artigo, Léon Denis, que viveu entre 1846 e 1927 na França, chama-nos a atenção para os problemas da angústia e da dor, o grandioso destino do homem e a maneira de compreender e equacionar os obstáculos e as vicissitudes da vida terrena.

Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Por que sofremos? Qual o objetivo da nossa existência? São para essas e outras indagações que o escritor francês busca trazer reflexões à luz dos fundamentos dos princípios espíritas.

É um pensamento literário e libertário que merece leitura bem cuidada e completa. Uma das coisas que constatamos é a sua dolorosa confirmação: reconhece que, se o ensino ministrado pelas instituições humanas, em geral – religiões, escolas, universidades –, nos faz conhecer muitas coisas supérfluas, em compensação quase nada ensina do que mais precisamos conhecer para encaminhamento da existência terrestre e preparação para o além.

Àqueles a quem se incumbe a alta missão de esclarecer e guiar a alma humana parecem ignorar a sua natureza e os seus verdadeiros destinos. Nos meios universitários reina ainda completa incerteza sobre a solução do mais importante problema com que o homem se defronta em sua passagem pela Terra.

Essa incerteza se reflete em todo o ensino. A maior parte dos professores e pedagogos afasta sistematicamente de suas lições tudo o que se refere ao problema da vida, às questões de termo e finalidade… (sic)

Sem a ousadia de querer adentrar e tomar como total domínio do pensamento do escritor, que pautou a sua vida em renúncias, alicerçando-a nos preceitos morais mais valiosos, nos apegaremos nesse ponto onde de fato percebemos o quanto filosoficamente ainda estamos nas superficialidades do conhecimento.

Talvez isso ocorra não por falta de luzes jogadas ao longo da nossa história, desde Jesus, a Francisco de Assis; de Madre Tereza de Calcutá a Chico Xavier, somos alimentados por exemplos e dialéticas esclarecedoras. Certamente o que parece ser mais óbvio é o medo que temos de nos conhecer, pois quantos “valores” irão sucumbir? Como irão sobreviver o orgulho e a vaidade humanas? Que soberba haverá de encontrar motivação? Qual egoísmo manterá sua energia?

Porém, essa obra é por muitos considerada completa porque ela vai muito além das constatações dos nossos dilemas; ela penetra literalmente no fundo da alma, ao ponto de mostrar um alento: ou aprenderemos pela sabedoria ou aprenderemos pela dor.

*Jairo Lima é poeta, escritor, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: Chico Xavier, escultura de Jairo Lima.