Peste bubônica agrava insegurança e pobreza de crianças na República Democrática do Congo
Unicef
Em 01.09.2021
País notificou cerca de 500 casos da doença centenária e 20 mortes nos últimos 12 meses; doença de fácil tratamento com antibióticos volta em contexto de pobreza e incerteza contínuas; situação preocupa Unicef.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef está cada vez mais preocupado com o impacto, em crianças, do ressurgimento da peste bubônica na província oriental do Ituri, na República Democrática Congo.
A Agência conta apoiar comunidades afetadas através de uma campanha de erradicação de ratos e pulgas, vetores de transmissão.
Grito de socorro
A campanha inclui construção de casas mais resistentes aos roedores e insetos perigosos e inclui fornecimento de camas feitas de material local para crianças. Nova pesquisa do Unicef, em três áreas sanitárias do Ituri, destaca que crianças estão em risco de contrair a peste que reaparece pela primeira vez em mais de uma década.
O Unicef quer ajudar os pais impedindo que durmam no chão onde são expostos à picada de pulgas. A ideia é assegurar que chefes de família e agricultores de subsistência possam viver num ambiente seguro e separado do alimento e gado.
A supervisora de Campo da Célula Analítica de Ciências Sociais do Unicef, Izzy Scott Moncrieff, diz que é preocupante o aparecimento de casos em áreas onde não foram registados por mais de 15 anos. Segundo ela, houve muitos mais casos em áreas com poucas ou quaisquer notificações.
A praga é transmitida em zonas rurais por pulgas carregadas por ratos selvagens em busca de comida nas aldeias, as pulgas infetam animais domésticos e gados antes que a doença seja eventualmente transmitida aos humanos através de picada.
Palhota
Dados das áreas sanitárias de Biringi, Rethy e Aru, foco do estudo, assinalam 490 infeções entre 2020 e 2021 e 20 mortes.
Acredita-se que este último surto seja diferente do anterior porque tanto ele como a sua versão pneumônica mais infeciosa, transmitido de pessoa para pessoa através do ar, foram relatados em zonas anteriormente livres da doença, perto da fronteira com o Sudão do Sul e o Uganda.
Deslocações frequentes de pessoas e insegurança na região criam um risco considerável de transmissão transfronteiriça. A praga tem o potencial de atingir particularmente as famílias mais pobres, vulneráveis a doenças como a malária e sem dinheiro para comprar mosquiteiros.
Yako Adhiku, 40 anos, mora numa casa redonda de barro coberta a palha na vila de Aru. Ela conta que percebeu a filha de dois anos, Asizu, doente, quando os gânglios linfáticos em seu pescoço começaram a inchar, com febre alta e perda de apetite e gengivas muito vermelhas.
Exposição
Temendo que a filha morresse, Yako levou-a, de imediato, ao centro de saúde onde recebeu comprimidos para ela e toda a família caso fossem infectados. Ela teve que pegar emprestado um gato para manter os ratos fora da casa e revelou aos pesquisadores que não pode trabalhar para cuidar da filha e o dinheiro já começa a faltar.
Embora cientes dos fatores agravantes da exposição a praga, pobreza, conflito e deslocamento, as comunidades não conseguem acionar medidas para protegerem-se a as crianças devido à falta de meios que obriga muitas pessoas a dormirem no chão e pobre gestão de lixo.
Covid-19
Conclusões do relatório da Cass recentemente publicado incluem a busca de assistência médica através de métodos tradicionais, manutenção de animais e colheitas em casa para evitar roubo, alterações climáticas, pobreza e insegurança regional numa província onde grupos armados continuam ativos e milhares de pessoas são deslocados internos.
Os impactos da Covid-19, que deixaram famílias mais pobres e menos capazes de atender às necessidades domésticas básicas, capacidade limitada de teste de praga que restringe a habilidade do fornecimento de diagnostico laboratorial e torna difícil rastrear com precisão a progressão da doença.
Foto destaque: Unicef/Scott Moncrieff –