Dias intrinsecamente tristes

Por

Jénerson Alves*

Em 03.09.2021

Há dias que têm uma tristeza intrínseca. Não sei se pelo tempo, se pela chuva, se pelas plúmbeas nuvens que escondem o sol… Não sei se por causa de acontecimentos que neles completam ciclos e parecem que ficam fixos no tempo. Quem sabe seja tudo isso. Ou nada disso.

Ontem foi um dia assim. Dois de setembro foi a data que meu avô, em 1994, dormiu o sono eterno. Eu me lembro que era uma manhã de sexta-feira. Acordei-me escutando minha mãe contando a meu pai que ela havia escutado a voz do meu avô chamando-a na frente de casa, mas não havia ninguém. Enquanto ela narrava essa história, meu tio chegou para dar a notícia que vovô já não estava entre nós. O sr. José Alves era professor, poeta e pastor batista. Há quem diga que herdei talentos dele, mas acho que jamais chegarei à sua altura…

Outro dia intrinsecamente triste é 20/09. Foi nesta data, em 2012, que meu pai viajou para o Reino Onde Tudo É… Era uma manhã de quinta-feira… Ele passou mal em casa. Antes de ser levado à UPA, falou com um ar triste: “Eu vou, mas não volto”. Na unidade de saúde, o médico perguntou o que ele tinha de dificuldade. Ele respondeu: “Problemas, tenho muitos; mas de riqueza tenho minha esposa e meus filhos”. Na realidade, eu que sou milionário pela oportunidade de ser filho de sr. Jessé…

É comum, em dias intrinsecamente tristes, ficarmos mais calados, mais lentos, mais estranhos. Nem nós mesmos conseguimos explicar direito o que acontece. Apenas ficamos assim…

Talvez, seja esse sentimento de finitude. Afinal de contas, há sempre um passado para o qual não podemos voltar, um presente que não podemos viver, um futuro que nunca virá… há sempre um amor que não poderá ser vivido, um sorriso que não poderá ser reprisado, uma lágrima que não dá para ser evitada.

O segredo é enfrentar com garra e abnegação esses dias intrinsecamente tristes. Mantermo-nos vivos e firmes, com o coração forte e a fé sólida. Mais cedo ou mais tarde, a noite passa, o sol aparece no horizonte. Outro dia virá.

*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: Joey Velasquez/Pixabay