Onde estão aquelas crianças?

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 20.02.2022

Vizinhos foram os primeiros a notar o sumiço. Familiares em seguida passaram a se perguntar e a indagar aos pais: onde estavam aquelas crianças?

Havia alguns dias, semanas e até meses que praticamente ninguém os via. Outrora estavam na rua jogando bola, conversando, fazendo amigos, correndo pra lá e pra cá e, de repente, sumiram. Na escola a ausência foi sentida. Professores diziam que já tinham notado algo de errado, a sonolência daquelas crianças apontava que algo estava errado. Elas estavam na escola, mas só corpo, pois, a mente parecia flutuar em outra dimensão.

Como crianças, de repente, perdem o interesse pelo mundo? Pelas amizades, pela conversa boba, pelas noites de sono e até pela alimentação?

Muita gente próxima, além dos médicos, já havia advertido que isto poderia acontecer. E uma vez ocorrido, seria difícil suportar a situação, pois, a ausência seria sentida e não se sabe ao certo qual seria o grau de comprometimento do celebro depois de danificado em virtude dos fatos.

A dificuldade dos pais em perceber e lidar com a situação é gritante. Sofrem sem conseguirem entender onde foi que erraram. Tudo parecia perfeito: os filhos estavam na maior parte do tempo em casa, trancados nos seus quartos, aparentemente, nada de errado. A realidade virtual tornou-se mais importante e mais segura que o real.

Aquelas crianças se perderam, assim como muitos adultos também. Não é possível acreditar que seu sumiço, seus novos hábitos de isolamento em frente ao computador, celular, TVs, tablets sejam saudáveis. A tecnologia veio para ajudar a gente a resolver problemas e com isto, potencializar a nossa existência. Mas, a tecnologia não substitui os amigos, o contato físico, o cheiro, a verdade, a conversa da esquina, o sorvete na praça ou no shopping.

É preciso saber os limites de uso e exposição às tecnologias. Nossa vida é curta, então, pra que acelerar tanto? Qual a necessidade de se ter tantos seguidores desconhecidos ou amigos virtuais. A tecnologia nos aproxima é verdade, mas tal aproximação virtual não prescinde de distanciamento social, pois se assim ocorrer, será o caos das relações humanas.

*Enildo Luiz Gouveia é professor, poeta, cantor, compositor e teólogo. É membro da Academia Cabense de Letras.

Foto: terapiadecrianca.com.br