Educação na Campanha da Fraternidade

Por

Mirtes Cordeiro*

Em 07.03.2022

Enquanto no mundo inteiro a população assiste ao desenrolar de uma guerra desumana, promovida pela Rússia para dominar a Ucrânia – um país livre e soberano -, surge uma notícia boa: a Educação está no foco da Campanha da Fraternidade, desenvolvida pela igreja Católica.

O tema já foi objeto de reflexão e ação eclesial em 1982 e 1998, e a Campanha da Fraternidade deste ano é inspirada no Pacto Educativo Global, convocado pelo Papa Francisco. Com os fundamentos de uma educação humanizada, tem como tema “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). (CNBB)

“Para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira. Quer dizer que educar é tarefa da família, das escolas, das igrejas e de toda asociedade”, diz o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Joel Portella..

A Igreja considera que a pandemia contribuiu para o agravamento da situação das escolas com relação a infraestrutura e aprendizagem, e que é necessário mais investimentos para corrigir as lacunas da política educacional.

Dos problemas citados no diagnóstico do Movimento Todos pela Educação, preocupa mais a evasão e a falta de interesse das crianças para a volta à escola.

“O lançamento do tema ocorre sempre na Quarta-feira de Cinzas, quando tem início a Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa. O assunto é difundido nas celebrações e programações da comunidade religiosa”.G1

Quando a Igreja se refere a humanização na educação, fala de amor, sabedoria, fortalecimento dos vínculos entre as pessoas, do envolvimento das famílias no processo educacional, no cuidado com a natureza e na preocupação com o novo modelo para o ser humano.

“A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também em difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza”, considera o Pacto Educativo Global.

Para o nosso país essa campanha é fundamental, porque estimula que a sociedade possa compreender que é necessário garantir escolas de boa qualidade para todos, e que os princípios da educação possam cada vez mais estar voltados para desenvolver no ser humano, atributos e atitudes que o conduzam cada vez mais a uma prática de vida que o  aproxime do convívio com outras pessoas com as quais compartilha a vida no planeta,em permanente convivência com a natureza.

Na verdade, a humanização na educação transcende as formas tradicionais de trabalho utilizadas pelas escolas, na medida em que o foco da educação humanizada não deve estar apenas na transmissão de conhecimentos relacionados a diferentes áreas, devendo ir além,  valorizando o processo de desenvolvimento humano de cada indivíduo, sempre buscando o aprimoramento de capacidades como a empatia, a colaboração, a solidariedade, o cuidado, o respeito e outras necessárias aos seres humanos na sua totalidade.

“Outro ponto positivo da educação humanizada está na qualificação do corpo docente. Para que seja colocada em prática, ela exige que os profissionais envolvidos estejam sempre em constante desenvolvimento. A finalidade é contribuir com a formação das próximas gerações e de uma sociedade mais justa”. (Faculdade Rudolf Steiner).

Os responsáveis pela educação pública, sobretudo para crianças e jovens em idade para frequentar o ensino básico, já não podem mais prescindir de suas responsabilidades com relação às escolas públicas.

Durante a pandemia, no período de dois anos, as escolas permaneceram fechadas, o tempo suficiente para que estados e prefeituras pudessem desenvolver o planejamento e a execução de ações fundamentais para a retomada do processo de aprendizagem. Mas o que se observa é que as escolas continuam com os mesmos problemas, sem água, sem as reformas necessárias, alunos sem uniforme, ou seja, a mesma cantilena: falta recurso, falta licitação.

Mas o que falta mesmo é a compreensão de que a educação é fundamental e que a escolaridade é parte fundamental da educação de um povo.

Por isso a Campanha da Fraternidade chega novamente num momento oportuno para estimular a mudança nas mentes cristãs com irradiação para outras pessoas na sociedade, cujo objetivo é” promover uma educação comprometida com novas formas de economia, de política e de progresso verdadeiramente a serviço da vida humana, em especial, dos mais pobres”. (CF 2022).

*Mirtes cordeiro é pedagoga. Escreve às segundas-feiras.