Crônicas

O frágil e enganoso discurso sobre a existência da Cristofobia

Enildo Luiz Gouveia*

Em 10.04.2025

Certamente, olhando para a mensagem inclusiva e acolhedora dos Evangelhos, Cristo deve estar envergonhado.

Falácia é uma estratégia argumentativa onde a afirmação feita carece de lógica e verdade. Ou seja, o que se afirma não encontra correspondência com o fato e assim, para se passar por verdade, quem faz uso da falácia geralmente apela para o senso comum com falas efusivas e exemplos isolados colocados como sendo universais.

No caso da Cristofobia, – termo que ganhou projeção recentemente devido aos embates envolvendo o respeito à liberdade de culto, Estado laico, escola laica etc. – a situação é ainda pior, pois apela-se ao religioso aproveitando da boa fé do povo brasileiro que é em sua maioria cristão.

A primeira confusão propositalmente colocada pelos que acreditam na existência de Cristofobia no Brasil é achar que a crítica a uma determinada Igreja ou religião é uma crítica ao próprio Cristo. Não! Se há algo que Jesus fez constantemente em seu magistério, foi combater os religiosos judaizantes dos templos. Os maiores conflitos de Jesus foram contra os Fariseus e Escribas, doravante, os chefes religiosos de sua época, sem, contudo, atacar a fé propriamente dita.

Dito isto, atualmente, ao se criticar o aparelhamento de escolas públicas (no caso dos intervalos bíblicos) ou o barulho excessivo de templos ou cultos ao ar livre, feitos por determinada Igreja ou confissão de fé, não se está sendo cristofóbico. Há países que são teocratas e em geral não aceitam outras confissões de fé senão a oficial que absurdamente pode constar na constituição. Mas estes países não são do mundo ocidental. Aqui, apesar da aparente democracia religiosa, a questão se inverte.

Outra questão não dita é o fator histórico. Ao menos no mundo ocidental, em sua grande maioria cristão, o que se viu foi uma verdadeira caça (pela palavra e/ou força) aos cultos de religiões locais chegando a exterminar algumas dessas. Onde não havia demônios, o cristianismo colonial tratou de “implantá-lo” para depois, “exorcizá-lo” junto com culturas e pessoas. Ainda hoje não são raros os eventos de ataques aos templos de religiões de matriz indígena-africana.

A intolerância gera intolerância e se hoje algumas pessoas terminam por criticar religiões cristãs, certamente não é por causa de Jesus e sim, devido às práticas desrespeitosas e em muitos casos, fundamentalistas que promovem o ódio e a perseguição ao diferente.

O aparelhamento e a distorção da religião pela política, feito especialmente no Brasil pela extrema direita, é que se configura como Cristofobia pois, pautas discriminatórias, intolerantes e neoliberais são mascaradas com discurso de fé. Certamente, olhando para a mensagem inclusiva e acolhedora dos Evangelhos, Cristo deve estar envergonhado.

*Enildo Luiz Gouveia – Professor, poeta, cantor, compositor e Teólogo. É integrante da Academia Cabense de Letras – ACL

Imagem destaque: Web

One thought on “O frágil e enganoso discurso sobre a existência da Cristofobia

  1. Achei muito importante e real. Também me preocupo com as mensagens nas igrejas católicas, distante da mensagem de amor aos pobres, como Jesus ensinou.

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