Cabo
Carlos L. Gomes*
Sou um pedaço de Cabo,
Verde, mercadoria humana
Vendida por almas,
Cristãs desumanas.
Sou do Cabo da foice
Que cortou cana para
Adoçar a boca do Rei.
Sou vítima da mão que usou
O Cabo do chicote, rasgou
Minha carne e, me enterrou.
Sou do Cabo da baqueta linda,
Que faz o tambor reviver o passado, Alegrando os foliões de Olinda.
Sou do Cabo do Santo confessor,
Que pecou, vendeu a alma ao
Diabo, virou filósofo, se consagrou.
Sou do Cabo da cana,
Sou da África, de Massangana.
Sou lembrança de Zumbi,
Sou ancestralidade, enfim.
Ainda estou aqui.
*Carlos L. Gomes – Escritor/Psicólogo. Integrante da Academia Cabense de Letras
NOTA DO EDITOR: Cabo de Santo Agostinho é um município de Pernambuco integrante da Região Metropolitana do Recife. Área de grande concentração de engenhos de cana-de-açúcar desde o início da colonização do Brasil, abriga o Engenho Massangana, onde viveu parte da infância o abolicionista Joaquim Nabuco. A casa grande do engenho sedia Museu Massangana, ligado à Fundação Joaquim Nabuco.