Ação Feminina, Memória

Maryum Ali: trajetória e impacto além do nome do pai

ICL Notícias

Em 14.02.2025

A trajetória da primogênita de Muhammad Ali como assistente social, ativista e guardiã do legado do pai

Você já ouviu falar de Maryum Ali? O sobrenome é conhecido, ligado a um dos maiores boxeadores da história, Muhammad Ali. Mas a trajetória dela segue outro rumo. Nascida em 1968, escolheu um caminho próprio, longe dos ringues, mas ainda marcado pela luta.

Desde cedo, entendeu que queria fazer algo que fizesse sentido para os outros. Cresceu em um ambiente onde o ativismo do pai e a solidariedade dos avós estavam sempre presentes. Aos poucos, percebeu que sua forma de atuar seria no trabalho social, lidando diretamente com comunidades marginalizadas.

Passou mais de 15 anos trabalhando na prevenção da violência entre jovens, coordenou programas de redução de gangues e chegou a se infiltrar no sistema prisional para expor suas falhas. Também atuou na gestão de projetos sociais em Los Angeles, sempre voltada para garantir oportunidades para populações vulneráveis.

O impacto do seu trabalho aparece na educação, na transformação de trajetórias individuais e na influência em políticas públicas. Se Muhammad Ali usou sua voz e sua carreira para desafiar injustiças, Maryum encontrou seu próprio jeito de continuar essa luta — sem holofotes, mas com a mesma determinação.

Infância e influências

Maryum “May May” Ali nasceu em 1968, filha mais velha de Muhammad Ali e Khalilah Ali. Crescer como filha de um dos atletas mais famosos do mundo significava viver sob os holofotes, mas também enxergar de perto os desafios que vinham com isso.

Seu pai não era apenas um campeão do boxe – recusou-se a lutar no Vietnã, enfrentou racismo nos Estados Unidos e usou sua visibilidade para falar sobre direitos civis.

Dentro de casa, o exemplo não vinha só dele. Os avós maternos de Maryum eram muito ativos na comunidade. Ajudavam idosos, apoiavam pessoas em dificuldades e mostravam que responsabilidade social não era um conceito abstrato, mas algo que se colocava em prática no dia a dia.

A primeira pergunta sobre propósito

Desde pequena, Maryum ouvia a mesma pergunta do pai:

— Qual é o seu propósito?

E a resposta era sempre a mesma:

— Quero ajudar as pessoas.

Maryum Ali e seu pai, Muhammad Ali, em 1973. Foto: Daily Mail

Esse diálogo se repetiu muitas vezes e ajudou a formar sua visão de mundo. Crescer em um ambiente onde o compromisso com o outro fazia parte da rotina teve um peso grande na forma como Maryum decidiu construir sua vida. Em vez de seguir uma carreira ligada ao esporte ou ao entretenimento, ela escolheu trabalhar diretamente com quem mais precisava.

A virada para o serviço social

Maryum Ali começou sua trajetória profissional na arte. Nos anos 90, lançou um álbum de rap chamado The Introduction (1992), querendo usar a música para falar sobre questões sociais. Mas a indústria do hip-hop mudou. As letras passaram a focar mais em violência e misoginia, algo com o qual ela não se identificava.

Nesse período, um primo próximo foi morto em um episódio de violência entre gangues. O impacto dessa perda fez com que ela pensasse em sua trajetória. Ela percebeu que queria ajudar de forma mais direta. Decidiu estudar serviço social e passou a trabalhar com prevenção da violência em bairros de Los Angeles.

O trabalho de Maryum Ali com jovens em situação de risco

Por mais de uma década, Maryum trabalhou com jovens em comunidades marcadas pela violência. Atendeu famílias, mediou conflitos e ajudou a desenvolver políticas públicas voltadas para a prevenção.

Gangues e sobrevivência

O que encontrou no trabalho com jovens foi uma realidade mais complexa do que imaginava. Muitos adolescentes não entravam para gangues por escolha, mas porque viam nisso uma forma de proteção ou pertencimento. Sem acesso a boas escolas, empregos ou um ambiente seguro, as gangues se tornavam uma saída.

Estratégias de prevenção

Maryum trabalhou em diferentes frentes para tentar mudar esse cenário:

  • Atendimento social para jovens vulneráveis.
  • Mediação de conflitos.
  • Apoio a famílias em situação de risco.
  • Treinamento de assistentes sociais.
  • Conexão de jovens com oportunidades educacionais e profissionais.

Com o tempo, percebeu que o problema não se resolvia apenas no contato direto com os jovens. Sem mudanças estruturais, a criminalidade continuava. Foi essa percepção que a levou a atuar dentro do governo.

Atuação no gabinete do prefeito de Los Angeles

Depois de anos trabalhando diretamente com jovens em situação de risco, Maryum Ali passou a atuar dentro do governo. Foi convidada a integrar o Gang Reduction & Youth Development (GRYD), um programa vinculado ao gabinete do prefeito de Los Angeles, assumindo a função de gerente regional.

O GRYD tinha como foco reduzir a criminalidade juvenil através de prevenção e suporte social. O trabalho envolvia ações para oferecer alternativas a jovens que, por falta de oportunidades, acabavam se envolvendo com o crime. Isso incluía acompanhamento psicológico, capacitação profissional e apoio para famílias.

Os desafios da política pública

Trabalhar dentro do governo trouxe novas dificuldades. O orçamento para programas sociais era sempre limitado, enquanto o sistema penal continuava recebendo mais investimentos. Em muitos casos, havia resistência à ideia de investir em prevenção, já que a repressão policial era vista como a solução mais rápida.

O trabalho envolvia negociações constantes com autoridades e diferentes setores da sociedade. Parte da população enxergava esses programas com desconfiança, enquanto outras pessoas defendiam mudanças mais amplas. A estrutura do sistema dificultava avanços concretos.

Foi por entender esses desafios que Maryum decidiu participar de uma experiência dentro do sistema prisional, tentando entender suas falhas a partir da realidade dos detentos. Essa decisão marcaria uma nova etapa em sua trajetória.

O reality show “60 Days In” e a imersão no sistema prisional

Em 2016, Maryum Ali participou do programa “60 Days In”, um experimento social que colocou sete pessoas sem antecedentes criminais dentro de uma prisão, sem que os detentos ou funcionários soubessem de sua real identidade. O objetivo era entender de perto o funcionamento do sistema prisional e identificar problemas estruturais.

Durante dois meses, Maryum viveu como uma presidiária comum. Dividiu cela com outras detentas, seguiu a rotina do cárcere e observou como a dinâmica dentro da prisão dificultava qualquer possibilidade de reabilitação.

As falhas do sistema prisional

A experiência confirmou algo que Maryum já percebia em seu trabalho com jovens em situação de risco: o encarceramento, sozinho, não reduz a criminalidade. Pelo contrário, muitas prisões acabam reforçando a exclusão social. Algumas das questões que mais chamaram sua atenção foram:

  • Condições precárias: superlotação, falta de higiene e assistência médica insuficiente eram parte da rotina. Muitos detentos não tinham acesso nem mesmo a produtos básicos.
  • Falta de reabilitação: o tempo na prisão não era usado para oferecer educação ou qualificação profissional. Os detentos saíam sem suporte para reconstruir a vida fora dali.
  • Cobranças abusivas: qualquer necessidade extra, como telefonemas e itens de higiene, era vendida a preços muito altos, sobrecarregando as famílias dos detentos.

Depois da experiência, Maryum reforçou sua visão de que prisão não resolve o problema da criminalidade se não houver investimento em educação e oportunidades para os jovens. Ela passou a abordar esse tema em suas palestras e entrevistas, usando o que viveu como referência para defender mudanças na abordagem do sistema penal.

O legado de Muhammad Ali e o compromisso com a educação

Além do trabalho social, Maryum Ali encontrou outra forma de manter viva a história do pai: a educação. Ao longo dos anos, percebeu que muitas crianças conheciam Muhammad Ali apenas como um boxeador famoso, sem entender sua trajetória fora dos ringues. Para mudar isso, decidiu transformar essa história em um material acessível para o público jovem.

Livro infantil sobre Muhammad Ali

Em 2003, Maryum lançou “I Shook Up the World: The Incredible Life of Muhammad Ali”, um livro infantil que apresenta a vida do pai de maneira simples e didática.

Para tornar a leitura mais envolvente, organizou a narrativa em formato de rounds de boxe, com cada um representando uma fase da vida de Ali. No final, incluiu uma linha do tempo com os principais acontecimentos da carreira e da vida pessoal dele.

O livro também traz frases e pequenos poemas do próprio Ali, destacando sua forma de se expressar e suas ideias sobre coragem e determinação. Além de ser uma homenagem, o material também serve como recurso educacional para professores e alunos.

Palestras e educação como ferramenta de reflexão

Com o tempo, Maryum passou a falar sobre o impacto do pai em eventos e escolas. Em suas palestras ela fala de Muhammad Ali além do esporte, abordando temas como racismo, direitos civis e desigualdade social. A ideia não é apenas lembrar de seu pai, mas mostrar como sua história se conecta com questões que ainda afetam muitas pessoas.

Para Maryum, seguir com essas conversas é uma forma de continuar o trabalho que o pai começou. Ao compartilhar sua experiência e a trajetória de Muhammad Ali, ela busca incentivar reflexões sobre justiça e o papel de cada um na sociedade.

Defesa da conscientização sobre o Parkinson

Muhammad Ali foi diagnosticado com Parkinson em 1984, poucos anos depois de se aposentar do boxe. A doença foi avançando aos poucos, afetando seus movimentos e sua fala, mas ele seguiu participando de eventos e apoiando causas sociais. Com o tempo, sua condição se tornou conhecida mundialmente, ajudando a dar mais visibilidade ao tema.

Maryum Ali assumiu a responsabilidade de manter essa causa ativa. Ela participa de campanhas de conscientização e arrecadação de fundos para pesquisas, além de dar palestras sobre o impacto da doença na vida dos pacientes e de suas famílias. Para ela, falar sobre o assunto é uma forma de ampliar o acesso à informação e reforçar o impacto do diagnóstico precoce.

O que Maryum Ali defende em relação ao Parkinson?

  • Diagnóstico precoce: quanto mais cedo a doença for identificada, maiores são as chances de controle dos sintomas e adaptação à rotina.
  • Suporte familiar: pacientes com Parkinson enfrentam desafios físicos e emocionais. O apoio da família faz diferença na qualidade de vida.
  • Investimento em pesquisa: o avanço da ciência pode trazer novos tratamentos e melhorar a vida das pessoas diagnosticadas.

Ao longo dos anos, Maryum compartilhou diversas histórias sobre a relação de seu pai com a doença. Sempre destacou que, apesar das dificuldades, Muhammad Ali manteve o espírito otimista e encontrou maneiras de continuar se comunicando.

Para ela, garantir que pessoas com Parkinson sejam tratadas com dignidade e tenham acesso ao suporte necessário é parte do legado que o pai deixou.

Conclusão

Maryum Ali construiu uma trajetória ligada ao serviço social e à educação. Seu trabalho com jovens em situação de risco, sua experiência no governo e sua passagem pelo sistema prisional mostraram que a desigualdade acontece por muitos fatores e não se resolve apenas com repressão.

Ela seguiu um caminho diferente do pai, mas com a mesma preocupação em usar sua voz para trazer visibilidade a questões importantes. Seja na prevenção da violência, na educação ou na conscientização sobre o Parkinson, seu foco sempre esteve em criar impacto real no dia a dia das pessoas.

Maryum não está no centro dos holofotes, mas encontrou formas de contribuir para mudanças dentro e fora das instituições. Seu trabalho segue ajudando a levar informação, criar oportunidades e manter vivas discussões que seguem sendo necessárias.

O que você achou desse conteúdo?

Discover more from

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading