Entre o bem e o mal

Por
Ayrton Maciel*
Em 02.08.2020
Uma realidade política, com características mundiais – efeito da radicalização de ideias e pontos de vista aversos e intolerantes ao contraditório – o ato da negação tem sido a peste medieval destes 20 anos do século XXI. A negação da história, da ciência, da educação, da razão criativa, do conhecimento como um bem de domínio lato sensu, da liberdade como regra de convivência de um povo e entre nações. Negar, confundir, gerar dúvida e inverter a origem ou causa dos fatos são a tédrade da Era da Negação.
Uma Era – a bem da humanidade – personificada por poucos líderes, que insensíveis e indiferentes são, por seu despotismo, de riscos incalculáveis e irremediáveis para a paz e o progresso se consolidassem seus projetos pelo uso arbitrário de seus poderes institucionais. Negar o holocausto judeu, negar o nazismo como ideologia à direita, negar a liberdade como o espírito da democracia, negar um vírus letal como ameaça coletiva, negar a inteligência humana como corolário do estágio atingido pela humanidade. Uma Era de real perigo de retrocessos.
A marcha da Era atual, no Brasil, tem sido vertente em negação. Nega-se com o cinismo próprio do ato e do autor. Não houve ditadura, não há pobreza aviltante do homem, o Estado não mata, o sistema não extorque, o poder e sua comunicação não mentem. A internet aproximou, agilizou e globalizou os processos de poder e comunicação, porém, na Era da Negação, tornou-se a arma de destruição e desmonte de maior proporção. Por sua via, a negação fez de Joseph Goebbels seu trunfo e prática.
Universais e, em tese, isentas, as redes sociais são hoje as mais destruidoras armas do cidadão, sem misericórdia ao contraditório e ao contraditor. Apocalipse da convivência e da divergência. Armas para o cinismo, a impiedade, o calculismo e a mentira, as redes são efeitos da pesquisa e do conhecimento acumulado e sistematizado. É a ciência, um bem humano. Entretanto, esse dom da espécie e universal não tem o poder sobre o bem e sobre o mal. A escolha é do arbítrio de cada um e uma. Cabe à sociedade, organizada e por vontade majoritária, estabelecer as regras e impor os limites, para preservar a convivência e salvar a liberdade.
*Ayrton Maciel é jornalista. Escreve aos domingos.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.