Aulas presenciais

Por

Carlos Sinésio*

Em 18.08.2020

Passado o auge da pandemia do novo coronavírus, um dos maiores impasses no momento é para decidir se as aulas presenciais devem reiniciar logo ou se o País precisa aguardar outro momento mais seguro para estudantes, professores e a sociedade em geral. De pronto digo logo: dificilmente as aulas presenciais para a maioria dos alunos vai ter reinício ainda este ano. Simples: a maior parte dos pais não deseja colocar em risco a saúde dos filhos e das suas famílias. Corretíssimos.

Como se sabe, os estragos causados nas crianças e jovens pela Covid-19 geralmente são bem menores do que em pessoas com mais idade ou pertencentes a grupos de risco, como idosos ou portadores de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, por exemplo. Os mais jovens, muitas vezes por serem assintomáticos, são grandes transmissores da doença viral. Com isso, podem levar o coronavírus facilmente pra casa e contaminar pessoas mais velhas, como os pais e avós.

As escolas particulares pressionam as autoridades pela volta às aulas presenciais, pois temem perder alunos e, claro, receitas. Temem fechar as portas. Porém, alegam que o prejuízo maior é dos alunos, que estão deixando de aprender mais, pois aulas virtuais não rendem tanto.

Os donos de escolas dizem que podem oferecer toda a segurança necessária para garantir as condições sanitárias capazes de evitar a transmissão do vírus. Será? E o percurso dos estudantes de casa para a escola e vice-versa? Uma grande parte, inclusive, utiliza o transporte público que é de má qualidade no Brasil.

Muitos pais temem pela saúde e pela vida dos filhos e dos familiares. E com toda razão. Como se diz, aula se recupera. Vida, não.

Como até as estrelas sabem, é muito difícil controlar o ímpeto dos jovens, que aqui são habituados a calorosos abraços e ao contato físico nos cumprimentos e nas relações sociais desde sempre. É quase impossível evitar o contato físico deles, sobretudo quando passam quatro, cinco horas ou mais num mesmo ambiente. Vamos ser francos: é praticamente impossível esse controle e esse distanciamento social escolar.

Na verdade, as escolas particulares, em geral, pensam mesmo é nos seus interesses e nos seus lucros. Raras são as exceções. Muitas resistem em adequar as mensalidades, já que a renda das famílias diminuiu, e elas não estão oferecendo o serviço para o qual foram contratadas. Redução de mensalidades já! É uma questão de justiça, né? Como as escolas não reduzem mensalidades, alunos estão indo embora.

Para você ter ideia, o colégio onde minha filha estuda em Casa Caiada, Olinda, por exemplo, não reduziu um centavo na mensalidade. Nem se deu ao trabalho de responder um e-mail que enviei abordando o assunto. Um desrespeito total.

Por outro lado, não é justo ter a volta das aulas nas escolas particulares, enquanto os alunos da rede pública ficam praticamente sem ensino. Como se sabe, uma parcela enorme dos alunos das escolas públicas não tem computador, celular nem rede de internet adequada para assistir as aulas devidamente. Então, mais uma vez haverá grupos de privilegiados, aumentando a distância entre classes sociais.

As autoridades mundiais em saúde alertam sempre que o vírus vai circular por muito tempo no planeta. Assim, ninguém deve se descuidar, até que haja vacinas eficientes.

Por tudo isso, a volta às aulas presenciais é um assunto polêmico e uma decisão que não cabe apenas às autoridades sanitárias, aos governos e dirigentes escolares. Cabe também aos pais e aos próprios estudantes, sobretudo os que já têm mais de 18 anos e são responsáveis por seus atos.

O retorno do ensino presencial é uma decisão muito difícil de ser tomada ainda. E, na dúvida, é melhor aguardar mais um tempo para ver como o vírus se comporta nos próximos meses. Afinal, calma, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

*Carlos Sinésio é jornalista. Escreve às terças-feiras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.