A pandemia do Natal

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 24.12.2020

Preparem as passas, peru, bolos, salgados, castanhas, enfeites, árvore, luzes etc, chegou o Natal. Opa! Como assim? Nem tivemos o São João e como já é Natal? Pois é, apesar de um ano atípico, o Natal teima em acontecer.

Existem historiadores que relatam a existência do Natal antes mesmo do nascimento de Jesus. Durante o Império Romano, época em que o calendário utilizado era o Juliano e não o atual, Cristão – Gregoriano, se celebrava o Natal em função do solstício de inverno no hemisfério norte. Só por volta do século IV d.C, o Imperador Constantino, convertido ao Cristianismo, fixou a data em 25 de dezembro e transformou o Cristianismo em religião oficial do Império.

Apesar das origens não-cristãs do Natal, sua celebração sempre esteve associada a fenômenos naturais e sobrenaturais. O Natal cristão simboliza a coroação das profecias que anunciaram o nascimento do salvador, Jesus. E este fato de um “Deus que nasce, vive e morre” é algo que não é aceito por outras religiões como o Islamismo e o Judaísmo. Polêmicas a parte, o fato é que há muitos anos que o seu sentido primeiro fora esquecido ou colocado em segundo plano. O advento da economia de mercado e da globalização capitalista nos trouxe coisas completamente incompreensíveis como, por exemplo, ter a figura do Papai Noel decorando shoppings no Japão, China, Coreia do Sul, Índia. Países de tradições religiosas onde não existe o Natal aderem ao Natal capitalista dos nossos dias. Sim, o Papai Noel não remete a outra coisa que não seja o consumismo. Por outro lado, quase não se vêem presépios nos shoppings do mundo cristão.

Neste período, estrategicamente os trabalhadores/as recebem o décimo terceiro salário e com ele, sentem-se tentados a consumir ainda mais, pois, o consumo atua como uma válvula de escape para a realidade sofrida. Atualizando a frase do filósofo Descartes “Consumo, logo existo!”

Assim, temos uma nova pandemia que tem levado o planeta à exaustão de recursos. A pandemia do Natal, além da Covid-19, é a pandemia da tentação do consumo; da substituição de presépios por Papai Noel; de esquecer que Jesus escolheu nascer na simplicidade e que em toda a sua vida fez a opção pelos pobres, criticando os poderosos que se beneficiam da pobreza dos outros. Uma vacina que nos cure de tal pandemia dificilmente será produzida. E se caso fosse, teríamos mais uma revolta da vacina, visto que este é o momento de acharmos que existimos diante da ampliação provisória da nossa capacidade de consumo.

*Enildo Luiz Gouveia é professor do IFPE e membro da Academia Cabense de Letras – ACL. Escreve às quintas-feiras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.

Foto destaque: Internet