O Dia Mundial da Água
Enildo Luiz Gouveia*
Em 22.03.2021
Todos os anos, no dia 22 de março, é celebrado o Dia Mundial da Água. Esta data foi instituída pela Organização das Nações UNidas (ONU)O no ano de 1993. Em 2021 o tema é Valorizando a Água e, assim como nos outros anos, traz um apelo para que tenhamos mais cuidado com a água e com o meio ambiente, pois a água influencia e sofre influência dos diversos elementos da paisagem, bem como das atividades antrópicas.
Como pesquisador da área, noto que a água só se torna assunto importante quando a mesma falta em nossas torneiras. Quase sempre a primeira menção que se faz a água é aquela que chega ou não nas torneiras e chuveiros. Esquece-se que a água está absolutamente em tudo, seja de forma direta ou indireta. O conceito de Água Virtual, por exemplo, nos traz a ideia do quanto consumimos de forma indireta através da alimentação, da roupa, enfim, dos nossos hábitos de consumo.
A Água Virtual refere-se a toda água presente nos processos produtivos que geram determinado produto. Por exemplo, para fabricar um carro temos 400.000 mil litros de água envolvidos; um celular consome algo em torno de 12.700 litros de água, e um quilo de carne bovina consume 15.000 mil litros. Ou seja, vê-se que o consumo de água está diretamente ligado ao nosso padrão de consumo influenciando diretamente outro conceito que é o da Pegada Hídrica, a Water Footprint.
O cálculo da Pegada Hídrica foi proposto pelo professor e pesquisador Hoekstra, no ano de 2002, e busca conscientizar as pessoas, governos e iniciativa privada da responsabilidade que temos com a quantidade e qualidade das águas. Ela demonstra em média o quanto cada pessoa gasta/consome de água anualmente.
A título de informação, a pegada hídrica per capta de um estadunidense é estimada em 2.842 m3 e a dos chineses, 1.071 m3. No Brasil a pegada hídrica está estimada em 1.381 m3, ou seja, cada brasileiro tem uma pegada hídrica média de aproximadamente 1,5 milhões de litros de água por ano. Evidente que toda média tem distorções e no caso do Brasil, as distorções na pegada hídrica se devem tanto a questões socioeconômicas quanto climáticas e geológicas.
A Pegada Hídrica, assim como a Pegada Ecológica, que é um cálculo que busca demonstrar o quanto cada habitante da Terra precisa em hectares para suprir suas necessidades com base no padrão de consumo, são dois indicadores do fracasso civilizacional que enfrentamos quando se trata em cuidar do meio ambiente do qual somos integrantes e do quanto somos irresponsáveis pela continuidade da vida no planeta, e em particular pelo destino das gerações futuras.
Para superar o quadro de degradação quantitativa e qualitativa das águas e do Planeta, será preciso articular as boas iniciativas locais às grandes lutas globais. Tal articulação requer o assumir das responsabilidades individuais e coletivas, ou seja, ao mesmo tempo em que cada pessoa se reeduca nos hábitos de consumo e gradativamente toma consciência, passa-se a pressionar os governos a tomarem iniciativas sérias e mais eficazes para além dos discursos de boa intenção.
*Enildo Luiz Gouveia é professor do IFPE e membro da Academia Cabense de Letras.
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