MEMÓRIA – Felizmente a vida continua

Por

Douglas Menezes

Em 26.09.2021

Pois novamente a ilusão acaba e se renova para um novo carnaval. Todo ano tem, todo ano vem, igual e diferente. O amanhecer traz a novidade de um novo momento, como o pôr do sol prenuncia a manhã chegante. A natureza faz isso pra que a gente se renove ou se mantenha rotineiro, feliz, ou não, a quarta-feira é igual à outra qualquer. Acho mesmo, nem tão ingrata assim.

Pois, para o bem ou para o mal, a vida continua, com milhões lutando pela sobrevivência, sem a chance de alguns, a festejarem o carnaval da abastança, muitas vezes, conseguida através da esperteza e da exploração dos mais humildes.

Também eu acho que carecemos de ilusão, um pouco. Ela traz poesia à vida, sustenta os sonhos, ajuda aguentar os trancos da existência pesada, de uma dureza a não se suportar, muita vez. Por isso, um pouco de carnaval prolonga a utopia de que se é feliz, ao menos uns dias por ano.  Daí a dor ao terminar esse reinado de fantasia. Quando o pobre se sente um pouco elite, um pouco rei e rainha.

Enfim, amanhã as cinzas estarão dissipadas na quinta-feira cotidiana, com os foliões fazendo as contas juvenis, aguardando de novo o momento de se virar criança, na busca do próximo carnaval de ilusões e sonhos e cinzas ingratas.

Quarta-feira de Cinzas, 26 de fevereiro de 2020

Foto destaque: Foto da concentração do Bloco Emperradinho no carnaval de 2020, uma semana antes do falecimento de Douglas. Na foto, João Sávio, Pedro Andrade, Douglas Menezes, Gérson Santos, Zequinha Faustino e Amauri Rocha. Acervo da família.

NOTA DO EDITOR:

MEMÓRIA – Douglas Menezes se despediu da cidade e da sua gente que tanto amou e cantou poucas horas depois de publicar esta que foi a sua última crônica, na noite da Quarta-feira de Cinzas, 26 de fevereiro de 2020. E é com a sua publicação que encerramos um mês de homenagens no seu mês de aniversário (23 de setembro) àquele que era considerado por muitos o maior cronista do Cabo de Santo Agostinho (PE) nas últimas quatro décadas. Em breve, o lançamento do livro Douglas Menezes, um operário das letras, de autoria do editor deste blog, jornalista José Ambrósio dos Santos.