Por que se mobilizam os jovens?
Mirtes Cordeiro*
Em 08.11.2021
A participação dos jovens sempre foi intensa pelo mundo afora, nas lutas de libertação, nos movimentos estudantis e sociais. Também na luta política, nos movimentos culturais e etc…
No Brasil, a juventude se engajou com força na luta contra a ditadura – tarefa de grande parte da minha geração – pelas diretas já, pelo impeachment de Collor, por educação de qualidade, pela reforma agrária, contra os vários tipos de preconceito, pela melhoria da qualidade de vida e contra o racismo e a violência.
Atualmente, com o advento da internet, os jovens se organizam em redes sociais e grupos específicos de interesses em suas comunidades, conscientes da importância do seu protagonismo na construção de um mundo com sustentabilidade e equidade.
Cabe à sociedade criar as condições para que a juventude possa traçar os seus caminhos.
A Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26) em Glasgow, na Escócia, trouxe à mídia a pujança da juventude de boa parte do planeta terra. Embora tenha reservado um dia para discutir a participação dos jovens, o que se via desde o início era a efervescência de delegações da juventude mundial, que lá aportavam desde o início.
A preocupação com a falta de cumprimento das metas do Acordo de Paris e com um futuro que se aproxima carregado de circunstâncias nefastas, produzidas pelos gases que provocam o efeito estufa e influenciam no aquecimento da terra causando desequilíbrios como temporais, nevascas, desertificação do solo, elevação dos níveis dos oceanos e elevação da temperatura na terra, levou a que os jovens intensificassem suas manifestações contra as ações humanas que muito têm contribuído para essa situação de desequilíbrio ambiental e por um engajamento efetivo da juventude nas tomadas das decisões.
Muito Justo, já que é essa juventude que vai ter a responsabilidade de fazer as mudanças necessárias daqui para a frente.
“De 28 a 30 de setembro de 2021, cerca de 400 jovens, entre 15 e 29 anos, oriundos de 186 países, se reuniram em Milão, na Itália, para discutir as principais urgências e prioridades da ação climática. Na bagagem, eles levavam o rascunho de um documento elaborado em reuniões remotas com milhares de outros jovens. E, ali lapidaram um Manifesto que será discutido no próximo dia 5 de novembro com os líderes globais reunidos na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP26”. (Agência Jovem de Notícias)
O Manifesto, entre outras questões, pauta a necessidade de apoio logístico para promover o engajamento dos jovens, de financiamento público e privado, de incremento à pesquisa para aceleramento da transição energética no mundo. Ao mesmo tempo defende a busca de soluções com respeito à natureza e aos povos locais e indígena e solicita apoio às práticas sustentáveis existentes, sobretudo ao que denominam “economia marginalizada ou alternativa”, com o apoio às populações colocadas em situação de vulnerabilidade e persistência na busca de uma sociedade justa e equitativa.
Mais de 80 jovens brasileiros de diversas regiões do país integraram as delegações mundiais e participaram de eventos paralelos e das manifestações públicas ocorridas durante o evento, exigindo maior compromisso dos líderes políticos e a integração entre poderes públicos e instituições e empresas privadas no efetivo combate aos efeitos que geram as mudanças climáticas prejudiciais aos seres vivos no planeta Terra.
Destaque especial para ativista indígena Txai Suruí, 24 anos, única brasileira a discursar na abertura da Conferência. Cursando o último semestre do curso de Direito na Universidade Federal de Rondônia, Txai é uma índia nascida dos povos Suruí, em Rondônia, filha do cacique Almir Suruí, que vem lutando há anos contra o desmatamento da Amazônia.
Txai também é fundadora do grupo Movimento da Juventude Indígena de Rondônia.
Sua fala na COP26 aponta para questões vistas e sentidas pelos índios e por todos nós, com exceção dos que só pensam na ganância, no lucro fácil…
“Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores. Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo”, disse Txai, com a autoridade da juventude que ainda tem tempo para fazer retroceder as medidas criminosas praticadas contra as florestas, os rios, o solo e os povos.
Segundo a OXFAM “o mundo vem testemunhando a força crescente dos jovens na construção de uma sociedade melhor. Eles estão nas ruas, nas comunidades, no debate público, defendendo seus direitos e da sociedade, mobilizando as pessoas e chamando governos do mundo à responsabilidade em respeitar, proteger e efetivar os direitos humanos”.
No Brasil os jovens estão entre os que mais sofrem com o desemprego, violência, ausência de escolas e moradias com dignidade.
Apontado pelo Atlas da Violência, no Brasil, mais da metade das mortes por homicídios em 2017 (54,54% do total de 65.602), por exemplo, foi de jovens entre 15 e 29 anos.
Já sabemos, há muito tempo, que o mundo não poderá alcançar um padrão de crescimento equitativo e avançado se não se investir no acesso e qualidade da Educação para todos e na juventude. Crianças e jovens atualmente são as maiores vítimas da crise econômica e sanitária pelas quais passamos.
Precisamos repensar a qualidade das lideranças políticas no Brasil.
É urgente que comecemos a pensar em eleger para os cargos de direção política jovens comprometidos com o seu presente, o seu futuro e o futuro da humanidade.
*Mirtes Cordeiro é pedagoga. Escreve às segundas-feiras.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do blog Falou e Disse.