Libras como instrumento mediador entre psicólogo e o paciente surdo

Por

Rafaela Costa*

Em 03.07.2020

Dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no censo demográfico realizado no ano de 2010, apontam que existem 9.722,163 milhões de brasileiros com deficiência auditiva, em diferentes graus, indo da leve à severa.. Portanto, este número expressivo de sujeitos Surdos indica a necessidade do profissional psicólogo habilitar-se na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

A Língua Brasileira de Sinais tem como influência a Língua de Sinais Francesa (MOURA, 2000) e, constituiu-se como instrumento oficial de comunicação e expressão através de um sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria na transmissão de ideias e de fatos, oriundos de comunidades de pessoas Surdas do Brasil, conforme previsto na Lei Federal nº 10.436 (BRASIL, 2002), a qual foi regulamentada pelo Decreto nº 5.626/05 (BRASIL, 2005).  E após anos de atuação, a profissão de Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais (TILS), por sua vez, é regulamentada pela Lei nº 12.319 (BRASIL, 2010).

Anos antes da regulamentação da profissão do TILS, em 1992, ocorreu no Rio de Janeiro o II Encontro Nacional de Intérpretes, no qual foi aprovado o código de ética do TILS. Este documento passou a orientar esse profissional, abrangendo diversas situações que envolvem sua atuação.

No capítulo um, do código de ética, do TILS descrito em Quadros (2007), ressalta os princípios fundamentais da profissão:

  1. O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesta, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidências a ele confiadas;
  2. O intérprete deve manter uma atitude imparcial durante a interpretação, evitando dar opiniões próprias, a menos que seja requerido a fazê-lo;
  3. O profissional deve ser fiel na interpretação, procurando transmitir o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante;
  4. O intérprete deve reconhecer seu nível de competência, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais quando necessário, especialmente em palestras técnicas;
  5. O intérprete deve se vestir de modo adequado, sem adereços, e evitando chamar a atenção sobre si mesmo durante o exercício da função.

Assim, o profissional TILS é o interlocutor na comunicação entre Surdo e ouvinte. Seu trabalho está relacionado com a interação comunicativa, social e cultural, possibilitando a inserção da pessoa Surda na sociedade como também, segundo Quadros (1997), visa garantir a pessoa Surda seus direitos linguísticos de valorização da língua de sinais.

Devido não existir ainda muitos profissionais de saúde – sobretudo psicólogos – habilitados na LIBRAS, o acolhimento psicológico da pessoa Surda é prejudicado. Diante dessa situação surge a seguinte pergunta: o TILS pode ser inserido nesse ambiente e atuar ao lado do psicólogo?

Estudiosos explicam que a relação entre psicólogo, paciente surdo e Intérprete de LIBRAS ainda se encontra em situação de desarmonia. Tal situação deve ser considerada, pois as transferências e contratransferências apontam, como pano de fundo, a história de vida e experiência pessoal dos sujeitos envolvidos, produzindo interferências no acolhimento psicológico. Assim, na perspectiva do atendimento psicoterapêutico, o profissional TILS se torna um elemento que gera ruído na comunicação entre psicólogo e paciente Surdo.

O Filósofo Paul Ricoeur explica que nossas palavras expressam as nossas crenças e identidades, ou seja, tudo aquilo que consideramos importante a partir das nossas experiências e vivências. Consideramos, então, que a LIBRAS é um instrumento que pode ampliar as possibilidades de comunicação e de interação entre o psicólogo e o paciente surdo no atendimento psicoterapêutico.

Como psicóloga bilíngue, enfatizo a importância em oferecer acessibilidade ao paciente Surdo que utiliza a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como meio de comunicação e expressão, no atendimento psicoterapêutico.

*Rafaela Costa é Psicóloga Bilíngue (Português – Libras) em Recife (PE). Tem Certificação em Proficiência em LIBRAS (UFSC) e é formada em Surdocegueira (CAS) e Tiflologia (CAP).

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