Povo Guarani Mbya retoma área em Canela, no Rio Grande do Sul

Por

CIMI

Em 01.12.2021

Na década de 1940, o local foi transformado em espaço de preservação ambiental; a área possui mais de 700 hectares e está preservada

A força dos Guarani Mbya tomou conta do município de Canela, no Rio Grande do Sul (RS), na manhã da última segunda-feira (29): oito famílias do povo retomaram uma área transformada em espaço de preservação ambiental pelo estado gaúcho. O local, que possui mais de 700 hectares, está preservado, rico em florestas e com água “em abundância”.

Foi na década de 1940 que a área passou por esse processo de transformação. Em nota, o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Sul, Roberto Liebgott, explica que isso ocorreu “em função da implementação de pequenas barragens naquela região”. “A área estava sob o controle da Companhia de Energia Elétrica do Estado do Rio Grande do Sul (CEEE), recentemente privatizada”, disse Roberto.

“A área estava sob o controle da Companhia de Energia Elétrica do Estado do Rio Grande do Sul (CEEE), recentemente privatizada”

Povo Guarani Mbya realiza retomada de área em Canela, no Rio Grande do Sul, na manhã do dia 29 de novembro de 2021. Foto: Povo Guarani Mbya

O local escolhido pelo povo Guarani Mbya, para a fixação da comunidade, fica próximo à Barragem dos Bugres, em Canela (RS), que tem como função principal realizar a transposição de águas das bacias do Rio Caí para o Rio Paranhana.

“O nome dessa barragem é revelador acerca de quem foi expulso da região para que a instalação fosse feita. É importante recordar que os indígenas, de forma preconceituosa e pejorativa, eram denominados, pelos colonizadores, de bugres“, conta Roberto.

“É importante recordar que os indígenas, de forma preconceituosa e pejorativa, eram denominados, pelos colonizadores, de bugres“

Indígenas do povo Guarani Mbya durante retomada de área em Canela, no Rio Grande do Sul. A ação ocorreu na manhã do dia 29 de novembro de 2021. Foto: Povo Guarani Mbya

Para os indígenas desse povo, o processo de retomadas está inserido em um contexto de “espiritualidade”, com vínculos com as ancestralidades, ou seja, “por onde os Mbya já passaram”.

Ao Cimi,  Agostinho Morinico, liderança religiosa do povo Karaí, afirmou que as oito famílias foram conduzidas por Nhanderu, Deus que guia e acompanha seu povo em todas as jornadas da vida terrena.

Agora, as lideranças aguardam um posicionamento do Conselho Estadual dos Povos Indígenas (CEPI), da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Ministério Público Federal (MPF) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para que dialoguem sobre a retomada e assegurem a manutenção dos indígenas na área.

“As lideranças esperam que os órgãos acompanhem e assistam essas famílias, já que no grupo há crianças e pessoas idosas. Esperam também que se procedam os estudos para identificação e delimitação da terra para o usufruto exclusivo da comunidade”, afirmou o coordenador do Cimi Regional Sul.

“As lideranças esperam que os órgãos acompanhem e assistam essas famílias, já que no grupo há crianças e pessoas idosas”

Indígenas Guarani Mbya durante protestos por demarcação, em Brasília. Crédito da foto: Tiago Miotto/Cimi

Além disso, os Guarani Mbya desejam contar com o apoio de outras comunidades indígenas, com entidades e grupos que também lutam pelos direitos originários, como o direito à vida e à terra.

Foto destaque: Povo Guarani Mbya realiza retomada em área localizada no município de Canela, no Rio Grande do Sul (RS). Foto: Povo Guarani Mbya