O privilégio da mulher
Jénerson Alves*
Em 11.03.2022
Março é o mês da mulher, e é muito importante o debate sobre a relevância feminina, inclusive no mundo das artes. Recentemente, passou a ser reconhecido o trabalho da pintora Michaelina Wautier, do século XVII. Notável artista barroca, ela pintou quadros com temáticas variadas e, ainda em vida, recebia muitos aplausos. À guisa de exemplo, até o arquiduque da Áustria, Leopold Wilhelm, adquiriu obras de Michaelina.
Uma de suas telas mais expressivas é ‘A Educação da Virgem’, na qual retrata a jovem Virgem Maria com a mãe, Ana, e o pai, Joaquim. Sabemos que os nomes dos pais de Maria não aparecem nos textos canônicos do Novo Testamento. Eles nos são conhecidos mediante a tradição e textos apócrifos, como o Proto-Evangelho de S. Thiago Menor e o Evangelho da Natividade de Maria. Reza a lenda que Santa Ana era estéril, mas após muitas súplicas a Deus conseguiu engravidar de S. Joaquim, ambos já em idade avançada.
No quadro, Michaelina traduz a piedade do casal, e é possível perceber na figura de Ana os arquétipos de esposa, mãe e professora. A senhora, que recebeu a graça divina de conceber, está orientando aquela que trará Deus do céu à terra. É através da graciosa intervenção feminina que o Eterno ‘abandona’ o trono celestial e vem para o coração humano. São Paulo Apóstolo explica que Deus, o Pai, habita em luz inacessível. Contudo, Maria é a portadora de luz: o seu Filho é o único e suficiente Salvador.
Esse sinal de grandeza da mulher refulge na tela de Michaelina Wautier e ilumina os nossos dias. Talvez quem melhor traduziu esta mensagem foi a filósofa Alice von Hildebrand (1923-2022), autora do livro ‘O privilégio de ser Mulher’:
“Quando chegar a hora, nada que tiver sido produzido pelo homem subsistirá. Um dia, todas as realizações humanas serão reduzidas a um monte de cinzas. Por outro lado, todas as crianças nascidas de mulher viverão eternamente, pois a elas foi concedida uma alma imortal, feita à imagem e semelhança de Deus”.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Imagem: A Educação da Virgem, de Michaelina Wautier