A mulher que escolheu o próprio signo
Alcivan Paulo de Oliveira*
Em 25.07.2022
Dona Elisa é uma mulher de opinião! Ela diz que a vida lhe fez assim, mas, no fundo, desconfio que deve ter uns genes que a fizeram destemida e corajosa, antes mesmo de ela vir ao mundo.
Desde pequena, antes dos seis anos de idade, quando foi dada para uma família e transformada na “menina-da-casa” (sabe aquela história de que quem “pega” para criar, mais escraviza que educa?) ela teve de lutar contra todo tipo de assédio, fugindo de casas em que trabalhava, mesmo que isso implicasse em ir para a beira da estrada, antes dos dez anos de idade. Era a década de 1950. A safadeza e o machismo eram maiores que hoje, mas a perversidade talvez fosse menor e por isso ela sobreviveu, conseguiu se safar, impondo suas escolhas e decisões.
Na hora de se casar, aos 19 anos, não foi diferente. Ela escolheu a cor do vestido, e não era branco. Tudo começou depois do caso de Maria Lúcia, moradora daquela cidade do interior da Paraíba. A mãe de Lucinha, como era conhecida, obrigou a moça a desfilar com o vestido de noiva branco na procissão de São José, padroeiro da cidade, para provar que iria casar virgem. Dona Elisa achou aquilo uma humilhação. Por isso, quando chegou sua hora de ir para o altar, resolveu se casar com um vestido creme, e não branco. Foi um alvoroço. O pai de criação chamado em um canto, junto com o noivo, sendo inquiridos pelo padre: – o senhor fez mal a menina?!? E ela mesma sendo pressionada no confessionário: – você vai casar virgem!?! E o padre não se convenceu de que nada teria acontecido, assim, celebrou o casamento fora do altar. Mas ela não trocou a cor do vestido.
Por essas e outras, não foi de tudo surpresa quando soubemos que ela escolheu seu próprio signo. Sabíamos desde pequenos que ela era de touro, nos dizia isso o tempo todo e, na época de Omar Cardoso, não perdia uma previsão sequer: cedo, o rádio estava ligado esperando a celebre frase: “cada dia, eu vou cada vez melhor!” ou algo parecido com isso.
Aconteceu numa dessas conversas de calçada, após o jantar, em comemoração ao seu aniversário. Fazendo as contas, checando as datas, descobrimos que seu signo não era touro, era gêmeos. E agora? Ela virou e se explicou: – mas eu sempre achei que me parecia mais com alguém de touro que dos outros signos, então escolhi o signo de touro! Maravilhosa determinação, mais uma dentre tantas histórias de escolhas singulares. Ela resolveu que tinha, sim, o direito de escolher o próprio signo.
Uma heresia para quem acredita em astrologia. Aliás, de tanto engasgo com a astrologia, resolvi pesquisar e achei um cara sério, apaixonado por astrologia. Chama-se Ricardo Feltrin, colunista do UOL. Ele escreveu um artigo enorme, artigo no sentido acadêmico, com citações e tudo mais, para provar que a astrologia não é pseudociência. Li-o com toda atenção e ao final, só confirmei minhas certezas: a astrologia é uma pseudociência.
Sim, é verdade que vivemos em um sistema muito mais amplo que a família, o bairro, a cidade e o planeta. Somos moradores do sistema solar, localizado pelos subúrbios da Via-Láctea. Ou seja, se integramos este sistema, ele nos influencia, nos determina. Não há dúvidas sobre isso: se não fosse aquele asteroide há 65 milhões de anos atrás, os mamíferos não conseguiriam existir, incluindo nós, ou seja, o extermínio dos dinossauros foi decisivo para nossa existência; sim, o lugar da órbita de nosso planeta em torno do sol determina todos os ciclos de vida, porque determina a estrutura física da terra e esta, por sua vez, determina as reações químicas; sim, a lua tem influência decisiva nos líquidos da terra, determinando as marés… etc.
Agora, reconhecer isso é uma coisa, outra é creditar à posição dos corpos celestes na hora de nosso nascimento, o que somos como pessoa e os acontecimentos futuros. Primeiro, porque há um antropomorfismo aleatório das constelações (cujo consenso sobre sua posição só ocorreu em 1930, no encontro Internacional de Astronomia). Uma pesquisa rápida no google e encontramos esse site: <https://www.infoescola.com/astronomia/constelacao/> sobre o assunto. Dê uma olhada. Chama a atenção, por exemplo, o esforço para vermos as figuras que definem o nome das constelações, configuradas pela junção das estrelas com segmentos de reta. Aquele conjunto de estrelas pode ser identificada como um touro, mas pode ser outra figura qualquer, ao sabor da interpretação do observador.
A segunda coisa é a atribuição dos nomes, vinculando as constelações aos personagens mitológicos. Áries, por exemplo. Cito integralmente o relato encontrado em diversos sites sobre sua origem:
Segundo a Mitologia Grega, a origem da constelação é bem heroica!
Basicamente, aborda a história do carneiro voador que possuía lã formada por fios de ouro e que salvou Frixo, filho do rei de Tebas, Átamas, com Nefele. Isso porque sua madrasta, temendo pelo bem de seus próprios filhos, tenta matar os filhos do primeiro casamento do rei.
Sendo assim, o carneiro é enviado em fuga com Frixo em seu dorso até a Cólquida. Mais tarde, é sacrificado em agradecimento ao rei de lá, que recebe a preciosa lã e se torna seu sogro.
Em contrapartida, Jasão na Tessália é desafiado por seu tio Pélias a resgatar a pele de ouro do animal. Assim, teria direito ao trono de seu pai, no reino de Iolcos.
Sem dúvida, o tio o faz de maneira maliciosa, pois o item é guardado por touros cuspidores de fogo, um dragão, entre outras armadilhas
Seja como for, Jasão recruta os 50 melhores heróis da época e juntos conseguem vencer todos os desafios em Cólquida, conquistando o velocino de ouro. O carneiro é homenageado então no céu, por meio da constelação de Áries.
Esse é apenas um entre diversos outros mitos gregos da Constelações do Zodíaco, onde grandes feitos geram histórias fantásticas o bastante para merecer um lugar entre as estrelas. (Fonte: https://www.mapadomeuceu.com.br/blog/constelacao-de-aries/)
Agora façamos o exercício: 1) preciso acreditar que o formato desenhado na constelação (cada constelação é, desde 1930, reconhecida como o resultado da esfera celeste dividida em 88 partes, por que desde então se reconhece mundialmente, que há 88 constelações) representa uma figura que conhecemos, no caso de áries, um carneiro; 2) preciso acreditar que aquele carneiro tem os atributos do carneiro da mitologia; 3) que esses atributos do carneiro da mitologia e da constelação são os mesmos das pessoas que nasceram no momento em que essa constelação estava visível no céu, sobre o lugar do nascimento. Pronto, é só isso…
Assim, com o auxílio da astronomia (uma ciência), ou seja, aplicando o método astronômico, os astrólogos, baseados nas mitologias, podem identificar qual sua personalidade e, pasmem, o que vai acontecer no futuro…
Por isso achei o máximo a atitude daquela mulher: se a astrologia trabalha com tanta aleatoriedade e tantos pressupostos inverossímeis, ela pode escolher o seu signo. Portanto, como Ariano Suassuna escolheu seu signo (Sport Clube do Recife) e aquela mulher escolheu o dela, defendo que todos e todas escolham o seu… O meu eu já sei: Oliveira, a árvore.
Imagem: medium.com
Ao ler o título deste texto já imaginei que seu conteúdo seria muito interessante, guardei o link enviado para meu whatsAPP pelo amigo Ambrosio e só agora pude degustá-lo! Não errei! Parabéns ao autor! Sempre tive de dizer que sou do Signo de Virgem, porém apesar de suas ditas características se assemelharem com a minha personalidade, mas sempre achei que sou mais Áries, Peixes, o duvidoso gêmeos ou até mesmo o sempre firme Capricórnio! Sabe… serei todos e nenhum a partir de hoje!! Abraços! Veridiana Duarte
Olá Veridiana. fico contente que tenha gostado. Obrigado pelo retorno e vamos à luta; todos e todas devem ter o direito de escolherem seu signo rsrs. fico imaginando a cena ao despertar: não sei, acho que amanheci hoje mas para touro que aires ..rsrs Muito bom. Alcivam