O filho do Brasil: mudanças e permanências
Enildo Luiz Gouveia*
Em 06.01.20223
Sempre há aquela pessoa que enxerga a vida pelo simplismo, ou porque não teve acesso aos estudos e informações necessárias a uma interpretação mais aprofundada, ou ainda, por comodismo ou conveniência. Lembro-me certa vez que uma estudante do ensino médio me disse: “ah professor, pensar cansa!”
O mundo, e particularmente o Brasil, não é pra iniciantes. Compreender o que se passa e o que se passou ao longo da história do nosso país, especialmente nos últimos seis anos, requer muita leitura, discernimento, coerência e, sobretudo, atenção aos fatos.
Nosso país viveu alguns ciclos de crescimento expressivo da sua economia sem, contudo, ter expressivo crescimento de seus indicadores sociais, confirmando na prática o enunciado que afirma que riqueza econômica não é sinônimo de redução das desigualdades. Em 2022, por exemplo, em razão das políticas catastróficas do governo, cujas consequências vão perdurar por algum tempo, vimos o crescimento da miséria e da insegurança alimentar que atinge mais de 30 milhões de pessoas no país, enquanto aumentou o número de super ricos e bilionários. Nesse contexto, o país vive um grande desprestígio internacional, notadamente por causa da sua política ambiental nefasta que mata os povos originários (sobretudo os indígenas), desmata e criminaliza os órgãos ambientais. Não se trata de retórica da oposição; é fato! E como diz o jargão, contra fatos não há argumentos. O mesmo governo que acusou movimentos sociais como o MST e o MTST é o mesmo que atuou veladamente apoiando grupos armados civis e paramilitares em ações que visavam prejudicar ainda mais nossa já frágil democracia e criar um clima de caos político. Enquanto isso, esses mesmos movimentos sociais ganharam prêmios internacionais por suas ações no combate a fome.
Por outro lado, parte da mídia nacional que funciona como um quarto poder (e mais influente) da república juntamente com legiões de inconformados e inconsequentes, insiste na depreciação da imagem do ex e agora, atual presidente Lula, o Filho do Brasil. O mundo reconhece que ele foi vítima de processo judicial fraudulento e prisão arbitrária. Prova disso é que no dia primeiro de janeiro, durante a posse presidencial, tivemos um recorde de representações diplomáticas prestigiando o retorno à presidência daquele que, apesar de muitos equívocos e erros no governo passado (2003/2006 e 2007/2010), foi e é o maior político da história desse país. Aquele que colocou o pobre na economia e conseguiu, como atestam órgãos como o IBGE, IPEA, ONU entre outros, reduzir parcialmente as desigualdades sociais e regionais.
Assim, ainda por algum tempo, o Brasil seguirá com discretas mudanças e fortes permanências reacionárias no imaginário popular e na prática política. Um país que recuperará seu prestígio internacional, mas que não permitirá, graças a atuação de suas elites pseudopatrióticas, mudanças estruturais que permitam uma virada radical de pensamento e atitude, bem como a superação dos gargalos que impendem o avanço do país em direção ao seleto grupo de países desenvolvidos.
*Enildo Luiz Gouveia – Professor, poeta, cantor, compositor, teólogo. É membro da Academia Cabense de Letras – ACL
Imagem: Ricardo Stuckert
Assertivo e objetivo retratando nossa realidade nua e crua. A verdade está aí, leia e aceite…
Obrigado Ricardo