Gerson de todos os Santos
Tereza Soares*
Em 31.05.2025
Gerson Santos. Quem nunca ouviu falar desse poeta atrevido, sonhador, popular e bom moço, sempre tomando o partido dos que sofrem ou precisam de alguém pra lhe defender? E ele defendia com suas armas verbais que saíam do próprio pão que ele comia e rolavam pelas ladeiras, viajavam para outros estados e serviam ao conhecimento, com versinhos sobre saúde, educação e tantas campanhas educativas a que o seu cordel atendeu. Se alguém chamava, ele já ia. Gerson era fiel a quem precisava de gente pra enfileirar os pedidos de poesia que chega a todos de maneira fácil, nessa linguagem tão criativa, e era encantado com o estado de ser poético a que se dispôs por toda uma vida. Nasceu para se comunicar dessa forma, com sua voz fininha e meio rouca. Ele nem se importava com isso, porque o livrinho do cordel estava na mão quase sempre, e isso era o que o colocava na posição em que queria estar. Vendia sua expressão por aí e o dinheiro não dava pra nada, mas ele sabia, e não se importava. Gerson era a cara do Cabo de tantos santos, como ele repetia. O mais popular sendo Santo Agostinho. Para ele era muito fácil abrir a boca e dizer: “Sou desta cidade onde faltam investimentos na cultura”, como reclamava.
Me disse uma vez o Gerson que andava muito feliz por estar participando de eventos literários no Espírito Santo, levando o nome desta cidade que ele tanto amava. Noutra ocasião, fizemos um vídeo com ele na ladeira da descida do shopping, que tem a vista da Vila da Cohab. Ele surgia recitando versos numa homenagem singela aos trabalhadores. O vídeo era para o sindicato. Contracenamos nesse período e em outros, quando ele insistia em receber o dinheirinho do cordel contratado pela Prefeitura. O calote que ele recebia, muitas vezes o deixava desanimado. Que insistência! Que resistência! E eu lembrava de Gerson vendendo chá mate com limão na frente dos Correios, na época em que a Casa da Cultura do Cabo era no Teatro Barreto Junior, que hoje nem existe mais.
Depois, teve uma lojinha de xerox na rua da Escola Casulo, a rua que eu morei desde que nasci, a Amaro P. Cavalcante. Sempre encontrava Gerson por ali, onde ele expunha seus cordéis no mural do próprio negócio. Por muitos anos Gerson foi reivindicado para entrar na Academia Cabense de Letras, abrindo o precedente para a Literatura de Cordel, que hoje começa a ser mais valorizada com outros membros representantes desse gênero mais popular e tão em evidência. Um dia estive com Gerson e outros colegas recitando poemas para os professores do Cabo, na Secretaria de Educação. Ele saiu com uns versos de mesa de bar. E para minha surpresa, todos adoraram e aplaudiram. Era a cultura popular que ele sempre defendeu.
Esse era o nosso Gerson.
*Tereza Soares – Poetisa e jornalista cabense. Integrante da Academia Cabense de Letras.
Imagem destaque: Gérson Santos e Tereza Soares esteve no lançamento da Coletânea de Poetas Cabenses produzida pela Academia Cabense de Letras, em 2014. A publicação foi organizada por Tereza. Divulgação.
NOTA DO EDITOR: O poeta cordelista Gérson José dos Santos faleceu anteontem (29.05.2025), vítima de insuficiência cardíaca severa. Natural do Cabo de Santo Agostinho, ocupava a cadeira número 28 da Academia Cabense de Letras.