Perdas e renovação na Academia Cabense de Letras
José Ambrósio dos Santos*
Em 01.06.2025
Os últimos dois meses foram impactantes para a Academia Cabense de Letras (ACL). Em pouco mais de 30 dias, duas cadeiras ficaram sem seus titulares: a 18 e a 28, pertencentes respectivamente a Eugênio Pacelli Jerônimo e a Gérson José dos Santos.
O encantamento desses dois imortais – como são consideradas as pessoas que integram academias de Letras, em razão das suas obras que ficam para a posteridade – deixou lacunas na produção literária do Cabo de Santo Agostinho, notadamente nos campos da crônica e da poesia popular.

Poeta, escritor, declamador de causos, professor, cronista e contista nascido em Iguaracy, no Sertão do Pajeú, o ‘caboclo sonhador’, como canta o seu conterrâneo Maciel Melo, faleceu no dia 26 de abril, quando ainda marchava para ‘inteirar’ – utilizando a sua fala matuta, mesmo sendo Mestre em Linguística – os 59 anos de idade.
Em nota de pesar, a Academia Cabense de Letras destaca que Eugênio Jerônimo construiu uma trajetória notável na literatura e na educação. Mestre em Linguística pela UFPE, professor dedicado à área de linguagens, publicou as obras Aluga-se janela para suicidas (2009); Gramática do chover no Sertão (2016) e, em coautoria, a biografia O que eu disse e o que me disseram – a improvável vida de Geraldo Freire (2017). Sua criatividade também se estendeu ao teatro e à música nordestina, sendo autor de roteiros, espetáculos e letras musicais.
Com uma trajetória marcada pela paixão pelas letras e pela cultura nordestina, Gérson Santos, que faleceu na última quinta-feira (29.05), se consolidou como uma das vozes mais representativas do cordel em Pernambuco. Nos anos 1980, participou da criação do folheto poético Para não nos Esquecermos, ao lado de Natanael Júnior, Paulo Cultura (in memoriam), Antonino Júnior in memoriam), Frederico Menezes, Jeová, entre outros. O projeto tinha como missão resgatar o fazer poético do município e fortalecer a memória cultural cabense.

Sua produção literária, marcada por lirismo e crítica social, circulou amplamente pelo Brasil. Gérson teve obras incluídas no Dicionário Biobibliográfico dos Cordelistas Contemporâneos, da Editora Nordestina, que reúne 204 nomes fundamentais da literatura de cordel. Em 2010, participou da Feira Internacional de Artesanato e Decoração (Feincartes), no Espírito Santo, onde foi elogiado por cordéis como Os 100 anos do mestre Vitalino, A história da Bíblia e Mensalão do DEM.
Em 2024, foi um dos homenageados do Festival Cordelando no Palácio da Cultura, evento que celebrou os grandes nomes do cordel nordestino. E mesmo durante a pandemia, manteve sua arte como instrumento de serviço público: em vídeo gravado no calçadão da praia de Suape, alertou com poesia sobre os cuidados necessários contra a Covid-19.
Desde a sua fundação, em 2010, a Academia Cabense de Letras se despediu de seis de seus membros efetivos: Milton Lins, Antonino José de Oliveira Júnior, Douglas Menezes de Oliveira, Carlos Silvino, Eugênio Pacelli Jerônimo e Gérson José dos Santos. A ACL prepara processo para admissão de membros efetivos e outras categorias de integrantes. A previsão é de que as admissões possam ocorrer ainda este ano.
José Ambrósio dos Santos é jornalista, escritor e integrante da Academia Cabense de Letras.
Excelente! Parabéns Ambrósio!