Você compraria um carro usado de Bolsonaro

Por
Heitor Rocha*
Em 06.07.2020
Richard Nixon teve que renunciar ao cargo mais poderoso do mundo por conta da evidência pública de sua mentira sobre o envolvimento da Casa Branca na espionagem do escritório democrata no edifício Watergate e na “rachadinha” de dinheiro sujo para financiamento de sua campanha à reeleição. Na época, ficou famosa uma pergunta sobre a reputação do então presidente dos EUA: “você compraria um carro usado de Nixon”. No caso brasileiro, já se pode indagar: você compraria um carro usado de Bolsonaro?
No festival de mentiras que o país vem assistindo recentemente, causa vergonha o malabarismo do advogado Frederick Wassef para tentar explicar a sua obstrução de justiça escondendo por mais de um ano Fabrício Queiroz. Igualmente, espantoso o esforço do presidente procurando os jornalistas na passarela do Palácio do Planalto, para tentar convencê-los que se referia na reunião ministerial à sua segurança pessoal e não à chefia da PF no Rio de Janeiro, para encobrir a intenção de evitar a investigação da milícia dos Bolsonaro, da rachadinha na lavagem de dinheiro e no envolvimento dos crimes dos ex-PM’s Fabrício Queiroz, Adriano da Nóbrega e Ronnie Lessa, executor do assassinato da vereadora Marielle Franco.
Também chama atenção a mentira do general Luiz Eduardo Ramos, chefe do gabinete da Presidência, que no afã de agradar o capitão/chefe supremo chegou a dizer que a prova de que ele dizia a verdade sobre a intenção de mudar a sua segurança pessoal no Rio de Janeiro e não a superintendência da PF era que o patrão, quando falava sobre isso, olhava para o general Heleno (chefe da GSI), o que foi desmentido pela gravação que o mostrou, na realidade, olhando para o então ministro Sérgio Moro, na emblemática reunião ministerial de 22 de abril. Um papelão que o ainda general da ativa encenou para justificar ganhar um dinheirinho a mais. Essas descomposturas provocam, certamente, um incontornável constrangimento na maioria das pessoas sérias e honradas que compõem as categorias dos advogados e juristas, as Forças Armadas e a sociedade brasileira de uma maneira geral.
*Heitor Rocha é jornalista e professor. Escreve às terças-feiras.
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